"O poder encontra-se onde deve estar, nas mãos dos sócios, que – todos e não apenas alguns - são o Benfica. Decididas as eleições, ganhe quem ganhar, o maior perigo virá sempre de tendências autofágicas que coloquem o ego à frente da instituição, que minem a estabilidade e não sejam mais do que agentes do caos...
No próximo sábado realizam-se as eleições para os Órgãos Sociais do Benfica, em que pela primeira vez, só será eleito quem obtiver metade mais um dos votos, nem que para isso haja necessidade de uma segunda volta. Esta medida deriva dos novos estatutos, e parece-me justa e clarificadora, já que umas eleições com grande número de candidatos podiam levar a uma pulverização dos votos, que legitimasse na presidência quem representasse, por hipótese, a vontade de apenas 20 por cento dos eleitores. Esta foi uma das partes positivos da revisão estatutária, que deixou de lado, incompreensivelmente (e não me digam que foi por dificuldades técnicas, porque bastava copiar e adaptar o que é feito noutros grandes clubes ibéricos) a possibilidade da criação de uma Assembleia de Delegados, que substituísse a atual Assembleia Geral, mais próxima, na lógica, de 1904 do que 2025.
Do que foi visto na campanha eleitoral, há que dizer que houve tudo, ideias boas, ideias originais, ideias boas que não eram originais e ideias originais que não eram boas. Também houve quem se preocupasse em debater construtivamente, e quem se limitasse a lançar lama para a ventoinha, algo que não terá passado em claro aos sócios eleitores, que normalmente cheiram à légua uns e os outros, e sabiamente chegam a boas conclusões. Existe, porém, um lado fraco na força das eleições dos clubes, e o Benfica não é exceção, que tem a ver com a tendência em embarcar no canto da sereia, tornando-se vulnerável à demagogia. Na Luz, o exemplo de Vale e Azevedo, que derrotou nas urnas, claramente, o Professor Luís Tadeu, que apresentava um projeto sério e responsável, é prova disso mesmo.
Às eleições do próximo sábado vão concorrer dois candidatos que sempre venceram as eleições do Benfica a que se candidataram, Luís Filipe Vieira e Rui Costa; e há também a questão da vantagem que normalmente se associa ao incumbente, neste caso, Rui Costa: é preciso recuar a 2000, com Vale e Azevedo, e antes a 1987, com Fernando Martins, para encontrarmos exemplos de presidentes recandidatos que perderam eleições (para Manuel Vilarinho e João Santos, respetivamente). Pelo caminho, de Fernando Martins (que por sua vez tinha vencido o presidente incumbente, José Ferreira Queimado, em 1981) para cá, houve três líderes que não levaram os mandatos até ao fim, Jorge de Brito, Manuel Damásio e Luís Filipe Vieira.
Perante o crescimento do número de sócios, e atendendo ao mediatismo em torno deste ato eleitoral, é de esperar uma afluência às urnas que bata o recorde de um pouco mais de 40 mil votantes, verificado na confirmação de Rui Costa. Se assim for, estará dada mais uma prova de vitalidade global de um clube que tem mantido uma média de espetadores altíssima nos jogos caseiros, e que tem na juventude que se interessa pela vida da instituição a maior garantia do seu futuro.
Os dados estão lançados, e a disparidade entre a importância eleitoral dos sócios com mais anos de filiação, relativamente aos mais recentes, torna os resultados, em minha opinião, insondáveis. O que há para ser enfatizado neste momento é que o destino do Benfica está onde pertence, ou seja, mas mãos dos seus sócios porque, no fim do dia, eles é que são o Benfica. Todos e não só alguns. E será com aquilo que decidirem que o clube terá de viver, sendo saudável que, mal termine o processo eleitoral, as divisões se esfumem. Nada pior do que as tendências autofágicas, que colocam os egos acima das instituições."

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