"O futebol mundial atravessa uma fase de transformação profunda, projetada em mudanças ambiciosas no calendário competitivo. Uma das novidades mais marcantes este ano foi o Mundial de Clubes que se juntou a outras competições já existentes em termos de seleções, como a Liga das Nações e os jogos de qualificação para o Mundial-2026.
A gestão de carga e a possibilidade de aumento de lesões tem sido tema diário e um dos bons exemplos disso foi a fase final da Liga das Nações de 2025, disputada entre França, Alemanha, Espanha e Portugal. A Seleção lusa foi a menos afetada por lesões entre as quatro finalistas e certamente que esse fator contribuiu para a vitória final.
A relação de confiança entre a Federação Portuguesa de Futebol e os clubes continua a ser um elemento essencial para o bom funcionamento do futebol em Portugal, especialmente no que diz respeito à Seleção sénior principal, bem como ao desenvolvimento de jovens talentos e credibilidade institucional.
A manutenção de contacto entre departamentos médicos e técnicos dos clubes para avaliar o estado físico dos jogadores tem sido uma constante. Provavelmente será a base para sermos ainda mais candidatos a campeões do Mundo. Qualquer problema de confiança que possa surgir quando jogadores regressam lesionados ou em má forma aos compromissos da seleção, atrasam sempre o sucesso comum.
Exemplo recente de uma tensão indesejada tem sido a França, com constantes problemas entre o Paris Saint-Germain (vencedor inequívoco da última UEFA Champions League) e a Federação Francesa de Futebol por convocar jogadores que, segundo o clube, estavam lesionados ou em recuperação. Isto inclui casos recentes de Ousmane Dembélé e Désiré Doué, ambos convocados pela seleção francesa e que ficaram posteriormente lesionados. O Paris Saint-Germain enviou uma carta a pedir protocolo de coordenação médica mais transparente e colaboração mais eficaz entre clube e federação.
Parece fácil concluir que se o jogador está apto a competir, está presente. Caso esteja lesionado, haverá outras oportunidades. Até porque só fisicamente capaz é que será uma verdadeira mais-valia. Mais recentemente, houve outra polémica entre o clube parisiense e a federação, após a dispensa de Bradley Barcola da seleção com diagnóstico de lesão crónica na coxa direita. Essa informação, contudo, não foi de todo confirmada pelo PSG.
Caso recente de um bom exemplo, refere-se à Seleção Portuguesa através do médio João Neves (também jogador do PSG). Convocado numa fase inicial, acabou por ser dispensado da convocatória da Seleção Nacional devido a uma lesão no tendão da coxa esquerda, contraída durante a partida do PSG contra a Atalanta. A Direção de Saúde e Performance da Federação Portuguesa de Futebol, em colaboração com o departamento médico do PSG, avaliou que o jogador não estava em condições físicas para participar nos jogos de qualificação para o Mundial-2026 frente a República da Irlanda e Hungria. Comunicação e colaboração simples e eficaz, não só para as pretensões coletivas como também individuais do atleta. A convocatória para um compromisso de seleção é um momento único e benéfico para todos, mas que exige equilíbrio entre oportunidades, desgaste físico e planeamento para que o jogador, o clube e a seleção tirem o máximo proveito desta parceria.
Existe outro tipo de situações que apesar de poderem estar associadas a uma possível defesa do atleta, têm o efeito contrário. Nicolás Otamendi jogou pela seleção argentina contra a Venezuela em setembro de 2025, apesar de estar lesionado, contrariando a decisão do seu clube. O selecionador Lionel Scaloni confirmou que Otamendi «foi jogar lesionado, às vezes contra a decisão do clube dele, e isso diz muito», destacando a dedicação extrema do jogador ao seu país. Obviamente que este episódio gerou uma grande controvérsia, já que o Benfica nunca divulgou qualquer lesão do jogador, capitão por sinal. A situação levantou questões sobre a comunicação entre o clube e a seleção, bem como sobre a gestão de lesões e o compromisso dos jogadores com as suas seleções nacionais.
Em média, durante a fase de qualificação os jogadores ficam entre 7 a 10 dias afastados dos seus clubes a cada janela temporal de compromissos internacionais. A janela típica contempla a chamada para apresentação à seleção que geralmente ocorre 3 a 4 dias antes do primeiro jogo, para fazerem treinos, avaliação médicas e preparação técnico-tática ao jogo. Normalmente são disputados 2 jogos oficiais por janela, com intervalo de 2 a 4 dias entre eles. Depois do último jogo, os jogadores costumam ter mais 1 a 2 dias para descanso e viagem de volta ao clube.
O desempenho de uma seleção nacional de futebol depende, em grande parte, da qualidade e da condição física dos jogadores que a compõem. É comum observar que as principais vitórias das seleções estão ligadas a uma forte base de atletas que chegam bem preparados fisicamente, muitas vezes provenientes de clubes dominantes nos seus campeonatos nacionais. O ritmo intenso das ligas onde os clubes são campeões também ajuda a preparar os jogadores para a exigência física e emocional dos torneios internacionais.
Quando uma seleção nacional consegue reunir um núcleo sólido de jogadores provenientes de clubes de topo, isso reflete-se diretamente na coesão tática, bem como na capacidade de responder às exigências físicas e estratégicas dos adversários. Por outro lado, lesões ou cansaço físico de jogadores importantes, frequentemente condicionados pelo excesso de jogos nos clubes, podem comprometer significativamente o desempenho da seleção. Há uma interdependência clara.
Uma boa relação entre federações e clubes reforça a necessidade de gerir a carga de trabalho dos atletas, protegendo a sua integridade física e, consequentemente, o desempenho coletivo. Se pensarmos por esta via e considerando que se é campeão do Mundo em pormenores, desta vez levamos vantagem sobre os dois últimos campeões do Mundo: França (2018) e Argentina (2022)."

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