"Escrevo esta crónica com a consciência de que, em parte, poderá envelhecer mal. Faço-o antes de se disputar a Supertaça, sem saber o que o jogo trará. Quem lê estas linhas já conhece o desfecho. Mas já lá iremos.
Nos últimos tempos, o universo benfiquista tem sido atravessado por um tema dominante: as eleições de outubro. Era inevitável que assim fosse. E continuará a ser assim até ao último dia. A vida do Benfica não se resume a noventa minutos de jogo. Vive da paixão, das decisões, dos caminhos que se escolhem. E não há momentos mais sérios, mais íntimos, mais nossos, do que uma eleição.
É por isso que, até ao dia em que os sócios forem chamados às urnas, darei neste espaço atenção reforçada a esse processo. Porque votar no Benfica não é apenas um direito. É um gesto de pertença. Um sinal de compromisso. As eleições não são apenas nomes ou promessas. São escolhas com alma. Escolhas que dizem muito sobre o futuro, mas também sobre aquilo que queremos continuar a ser enquanto clube.
Quero, desde já, deixar clara a minha posição sobre um dos temas que mais ruído costuma causar: quem deve ou não deve ser candidato. A resposta, para mim, é simples. Todos os que querem e podem sê-lo, têm esse direito. Não me cabe, enquanto sócio, julgar quem entra na corrida. O meu papel, e o de todos nós, começa depois. Começa na escuta, na análise, na comparação e, por fim, na escolha. Porque os sócios não afastam. Os sócios escolhem. E fazem-no com o coração cheio, com a cabeça no lugar e com a esperança de sempre. Ver o Benfica ganhar.
Os últimos dias foram vividos intensamente. O aparecimento de novos candidatos a candidatos e o anúncio da renovação do estádio e da sua zona envolvente dominaram o comentariado futebolístico diário. Comentariado esse onde o Benfica é o centro de tudo, uma espécie de Rei Sol à volta do qual o futebol nacional gira. É o preço a pagar pela sua grandeza. E também a consequência natural de ser o clube mais seguido, discutido e amado do país.
Antes de regressar aos acontecimentos mais recentes, deixo apenas uma nota. Penso que todos os putativos candidatos a destronar Rui Costa começam com um erro. O erro de dizer que tudo foi mal feito durante o seu mandato e que os resultados desportivos são prova disso. Sei bem que, em tempo de campanha eleitoral, existe uma tendência natural para o exagero. É compreensível. Mas não me parece uma análise justa. Nem me parece favorável a quem se apresenta como alternativa.
Uma candidatura é tanto mais credível quanto mais certeiro for o diagnóstico que faz do passado. Só com uma leitura séria e ponderada dos últimos quatro anos se pode demonstrar solidez nos projetos que se propõem para o futuro.
De forma muito resumida, até porque acredito que voltarei em futuras crónicas a uma análise mais detalhada sobre o mandato de Rui Costa, importa dizer que tudo começou da pior forma. Com instabilidade, com apreensão, com incerteza. O mandato arranca, como todos nos recordamos, com a detenção de Luís Filipe Vieira. Prossegue com a, até hoje, não esclarecida novela entre Jorge Jesus e o Flamengo. Tudo ingredientes mais do que suficientes para que qualquer clube demorasse a reencontrar o seu equilíbrio.
Ainda assim, no ano seguinte, o Benfica foi campeão. Perdeu os dois últimos campeonatos. E em ambos, bastaria que o nosso rival não tivesse contratado um ponta de lança tão decisivo, e provavelmente teríamos vencido. Digo provavelmente quando falo dos dois. Se me referisse apenas ao último, diria seguramente.
Na Europa, temos conseguido honrar o nosso passado e, ao mesmo tempo, amealhar recursos importantes para continuar a construir o nosso futuro. Essa é uma frente onde o Benfica tem estado à altura da sua história.
Com isto considero eu que não houve falhas? Que não deve haver mudanças?
Não, claro que não. Houve falhas, certamente. E, seguramente, há espaço para mudanças. Como, aliás, deve haver sempre. Mesmo quando vencemos consecutivamente. A única questão é se construímos essas mudanças a partir de uma base correta ou apenas de uma base que nos parece mais favorável do ponto de vista eleitoral.
Se no ano passado, em vez de Gyokeres, o Sporting tivesse tido outro avançado que, em vez dos 39 golos marcados pelo sueco, tivesse feito, por exemplo, 20 golos no campeonato, e já seriam bons números para um ponta de lança em Portugal, e o Benfica tivesse sido campeão, estaria tudo bem no Benfica? Tudo poderia e deveria continuar igual? Não. Penso igualmente que não.
Mas reparem. Bastava mudar um elemento, e não seria dentro do Benfica, para que a análise que alguns fazem hoje sobre o trabalho realizado mudasse por completo. E isso, por si só, já devia fazer pensar.
Talvez por isso, nos últimos dias, o nome de Sérgio Conceição tenha criado apenas distração, enquanto o projeto Benfica District gerou tração. Talvez por isso, muitos digam que o que irá decidir as eleições serão os resultados do Benfica até ao dia do voto. Tivessem sido os últimos anos marcados por erros históricos, e não seriam três meses que os apagariam.
O Benfica District captou a atenção de sócios e adeptos. É um projeto que convoca o Benfica para o futuro, deixando espaço, pela simples razão de ainda ser apenas um projeto, para sofrer alterações ou até mesmo para ser abandonado. Essa será uma decisão da próxima direção do clube. Penso que se trata de um tema marcante, e que nem o dizer mal apenas por dizer, nem projetos feitos no micro-ondas, serão a melhor forma de os candidatos responderem a este remate de Rui Costa.
Em futuras crónicas irei analisar com mais detalhe as candidaturas que já vamos conhecendo. Algumas que, com alguma surpresa, vejo crescer de forma consistente. Outras que, apesar das promessas iniciais, sinto irem perdendo tração à medida que o tempo passa.
Mas talvez, como disse no início, esta crónica envelheça mal. Talvez, para meu profundo desgosto, o Benfica não tenha vencido a Supertaça. E, nesse caso, veremos nos próximos dias cada candidatura tentar ganhar espaço com nomes de treinadores. Vamos aguardar. E continuar a analisar."

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