"Acreditando que o leitor não levará a mal o spoiler de um filme com 50 anos, uma das cenas mais icónicas da trilogia do Padrinho é quando Don Vito Corleone vê o seu filho na morgue, depois de ter sido assassinado, e diz de forma emotiva a quem o acompanha: «Look how they massacred my boy.»
De forma exagerada, ou não, já é desta maneira que eu olho para o Benfica.
Depois de perdermos o campeonato e a Taça de Portugal, foi agora a vez de uma participação pífia no Mundial de Clubes. Entretanto, há poucos reforços, há saídas significativas, Rui Costa recandidata-se, Vieira ameaça regressar, há o rumor de Sérgio Conceição e vamos jogar a Supertaça com o Sporting com 15 dias de treino e um jogo de pré-época (dois?). O Benfiquista sofre, o Benfiquista não tem descanso. Mas vamos por partes...
O Mundial de clubes
Depois dos troféus nacionais perdidos, à exceção do fraco consolo da Taça da Liga, abriu-se uma pequena hipótese de redenção com o Mundial de Clubes. Não é que o Benfica tivesse obrigação de o vencer, mas talvez chegar longe. Depois de anos a falarem-nos na internacionalização da marca, aqui estava uma excelente oportunidade de pôr o Benfica nas bocas do mundo. Mas, por falar em bocas, empatamos com o Boca argentino, goleámos uns amadores, vencemos de forma surpreendente o Bayern, para acabarmos goleados no prolongamento com o Chelsea.
Pelo meio uma cena vergonhosa entre Lage e Kokcü. Mas tudo isto foi peaners, como diria Jorge Jesus, comparado com o que mais me revolta: É que houve adeptos do Benfica a atravessar meio planeta, que se juntaram a outros adeptos do Benfica que vivem do outro lado do planeta... e só no último jogo é que a «estrutura» se lembrou (ou foi lembrada) de organizar algo para esses adeptos. Para além dos constantes falhanços desportivos, é só mais um sinal da desconexão total que existe entre o povo e esta carcaça de um antigo glorioso clube chamado Sport Lisboa e Benfica.
Mas, tal como é habitual, objetivo falhado, mais um, e no pasa nada. Foram todos para casa e foi só mais um dia na existência deste Benfica dos tempos atuais que faz da derrota o seu modo de vida e o encolher os ombros o seu modus operandi.
O mercado
Não consigo entender como o Benfica só agora começa a fazer barulho sobre a data da Supertaça. Não podia e devia ter sido adiada? No tempo da Covid, a Supertaça não foi jogada a meio da época? Tendo em conta que há um clube que foi representar Portugal no Mundial de Clubes e vai disputar duas pré-eliminatórias para ir à Champions, não era do interesse nacional, para além de clubístico, que a Supertaça não fosse já jogada?
Podemos não saber todos os dados e passos dados nos bastidores, mas dá ideia de mais uma vez os interesses do Benfica não terem sido defendidos por quem os devia defender e assim lá vai o clube disputar mais um troféu com tudo colado a cuspo e em cima do joelho. Chegaremos ao Algarve com curtas férias, 15 dias de treino, quase nenhuns jogos de pré-época e até ver com o plantel ainda pior do que no ano passado.
Saíram três titulares, Carreras, Kokcü e Di Maria e só vieram dois laterais que apenas o tempo dirá se virarão titulares (e melhores que Carreras ou Bah). E claro, no banco um treinador tão em brasas como Roger Schmidt estava no início da época anterior. É fácil de ver o que vai acontecer se, previsivelmente, o Benfica começar mal a época com a perda da Supertaça e falhanço no apuramento para a Champions. Lage será despedido e Rui Costa avançará com algum treinador sonante, para eleitor ver (e votar).
As eleições
Tudo o resto são árvores, as eleições de outubro são a floresta toda. Diria que é o momento mais importante da História do Benfica dos últimos largos anos. A confirmar-se a candidatura de Luís Filipe Vieira, que se junta à já confirmada de Rui Costa, os Benfiquistas têm dois rumos a seguir: Ou avançam para um futuro diferente ou voltam para trás, para mais do mesmo dos últimos 20 anos.
Confesso que acho até chocante e profundamente triste sentir que se Vieira avança é um candidato muito forte. Como, Benfiquistas, como? Um tipo no qual recaem as suspeitas que recaem, que prejudicou o Benfica da maneira que se sabe, que foi retirado do clube pela PJ, que agrediu um sócio na Assembleia, que disse que acha que há democracia a mais no clube, que em 18 anos perdeu 11 campeonatos e 15 taças de Portugal, que está com 76 anos de idade... e há sócios que querem voltar a votar nele?
E aproveitando o balanço... também sobra para Rui Costa. Teve um mandato desastroso. Em quatro anos a gastar sempre mais do que os rivais, conseguiu a proeza de perder três Campeonatos, quatro Taças de Portugal e três Taças da Liga. Conseguiu colocar o Benfica numa situação financeira mais periclitante do que a recebida. Conseguiu não defender os interesses do clube na arbitragem, no processo da centralização ou nas eleições da Liga e da FPF. Conseguiu não fazer um corte com o passado e avançar com quase toda a gente que estava lá com o Vieira.
Agora em cima da linha é que «acorda para a vida» e faz uma mudança brusca de 180º? Revelo também um espanto... como há sócios a quererem votar nele?
Sobram os outros candidatos. Neste momento há quatro.
Cristovão Carvalho, João Manteigas, Martim Mayer e Noronha Lopes. Dos quatro ainda há muito por saber. Quais são as suas ideias, quem faz parte das suas equipas e como lidarão sob pressão nos mais diversos problemas que o Benfica enfrenta. Dizer que, ao contrário do que referia Luís Filipe Vieira, a democracia faz sempre bem ao clube e é de louvar a vontade de todos eles de mudar o Glorioso.
Teremos ainda três meses para ouvi-los, saber mais sobre os seus projetos e tomar uma decisão em consciência sobre qual será a melhor opção. Sabendo que há obviamente um risco assumido, porque só depois de abrir o melão se vê se é maduro, mas algum deles terá de ser. O clube não pode voltar atrás, tem de ir para a frente.
Uma frase constante ao longo destes vários anos nesta coluna de opinião, o Vénia ao 3º Anel tem sido «Do Benfica não se desiste». E mais uma vez assim terá de ser. Teremos de ir para o Algarve dar tudo na bancada, acreditar que o Benfica regressa à Liga dos Campeões, desejar um excelente arranque de campeonato e depois... 25 de Abril no Benfica.
Um rompimento com o passado, em outubro. Voltar para trás é demasiado deprimente. Mais do mesmo é demasiado deprimente.
É para a frente, Benfiquistas!"

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