"Em Agosto de 1926, Cosme Damião foi eleito para presidente da Direção mas recusou exercer o cargo
Em 1925/26, Cosme Damião foi vice-presidente da Direção que tinha Bento Mântua a assumir o seu oitavo e último mandato como presidente. Em 8 de Agosto de 1926, reuniu-se a Assembleia Geral para discutir essa gerência e eleger a nova para a época vindoura.
Anos antes, algumas vozes encarnadas começaram a levanta-se em favor da profissionalização do futebol, questão que pairava sobre o futebol nacional, clamando por uma 'evolução' natural. Cosme Damião e a Direção defendiam o desporto no seu estado puro e amador.
A oposição, liderada por António Ribeiro dos Reis, acusava a Direção de contradizer-se, pois ao mesmo tempo que condenava que se carregassem os futebolistas 'nos bolsos', tinha já orientado apoio financeiro, por exemplo, ressarcindo os futebolistas quando o calendário desportivo os obrigava a abdicar de dias de trabalho. Além das críticas, houve alguns elogios, como o excelente desempenho na aquisição do Campo das Amoreiras, apesar de 'péssima' gestão das obras.
A oposição nomeou, então, uma comissão de sócios para criar uma lista para as eleições. Ressalvou-se o ascendente que Cosme Damião tinha nos outros membros diretivos, que era ele 'quem tudo mandava na Direção', ao que Bento Mântua protestava: 'Não tenho coleira'! Contudo, era sabido que, quando alguém era confrontado com dúvidas, a resposta automática era 'o Cosme é que sabe'. Esta 'ascendência moral' não passou ao lado da oposição, que colocou Cosme Damião como presidente da Direção na sua lista, e por este representar 'o passado (garantia e) respeito pelas gloriosas tradições' do Benfica.
Cosme Damião, desde o primeiro momento recusou a proposta, alegando três razões, desde logo um pacto que tinha feito com outros elementos diretivos, em que 'ou entravam os quatro ou não entram nenhum'. Na lista, constavam apenas dois. Em segundo lugar, referiu que um afastamento da vida diretiva beneficiaria a sua vida pessoal, 'quase sempre prejudicada com as coisas do Clube'. Por último, aos 40 anos, dizia ser 'ainda muito rapaz para presidente' e sem a mesma rede de contactos que Bento Mântua possuía a nível público.
No final da Assembleia, que durou 10 horas, a lista opositora venceu com cerca de 600 votos de vantagem. Cosme Damião cumpriu a palavra, recusando o cargo. Em 1931, voltaria aos órgãos sociais, assumindo o cargo de presidente da Mesa da Assembleia Geral no Benfica e, anos mais tarde, seria presidente da Direção do Casa Pia.
Benfica e Cosme Damião são dois nomes indissociáveis. No Museu que ostenta os dois nomes em simbiose, pode visitar a área 18 - 'E Pluribus Unum', inteiramente dedicada a esta figura ímpar na história do Clube."
Pedro S. Amorim, in O Benfica
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