"Visão de golo é o espaço de opinião semanal de Rui Águas, ex-internacional português e treinador de futebol
Na Luz se brilhou e venceu com frequência ao longo de décadas. Muitos dos visitantes sofreram logo ao sair do antigo túnel ante o poder dominador do anfitrião Benfica. Desta vez, porém, não poderia ter sido mais oposto o início desta nova história, que marcava a importante volta de um Benfica cheio de diferenças.
Do falhanço e choque iniciais, resultantes de um golo sofrido ainda o apito inicial ressoava, 20 longos minutos se passaram até ao primeiro sinal reativo, em que Pavlidis conseguiu finalmente rematar. Até lá, a equipa tremeu, mesmo aqueles que pela sua capacidade e experiência justificavam a liderança da reação. A abrir a reviravolta, o efeito da maior presença na área adversária fez-se finalmente sentir, exaltando a arte turca. O golo do empate conseguido pelo novo craque, resultou de algo que o Benfica tem feito pouco: passe preciso no espaço entre a defesa e a baliza adversárias, para a desmarcação na área de outro jogador, que não o solitário avançado de referência típico, sempre merecedor de guarda de honra apertada.
Quanto a Otamendi, feliz aquele que tem a oportunidade e o mérito de contribuir para o resultado depois de no mesmo jogo falhar rotundamente. Se bem que a sorte dê jeito, a personalidade forte e a experiência de alguns permite, por vezes, reagir e olhar em frente sem pestanejar. Da falha ao acerto. Do tremor ao festejo. Desta redenção individual resultou o procurado alívio coletivo com um segundo golo que virava o resultado. No começo da segunda parte, o Benfica rapidamente decidiu o jogo e descomprimiu da visível carga emocional que carregava. Mais dois golos de perfil semelhante: mais um canto e outra desmarcação no espaço, novamente explorado. Até final do jogo, algo que há muito não se via: substituições criteriosas e no momento certo, que também trouxeram ao campo duas outras interessantes novidades: Amdouni e Schjelderup, que justificaram a sua entrada quase marcando. ...
Quanto a Lage, para rematar, mereceu e muito este começo feliz. Entrou como é, competente, autêntico e honesto.
Entrevista
Poucas vezes a inoportunidade de uma entrevista foi tão evidente. Este troféu bizarro, se houvesse, estaria merecidamente atribuído. Num período critico do clube que disse defender, o antigo presidente protagonizou um episódio de oportunismo candidato, pouco (ou mesmo nada) se importando com os efeitos negativos que tal populismo deveria provocar. Reconhecidamente obreiro de alguns projetos que beneficiaram o clube, tal verdade não apaga, no entanto, um dos períodos que mais negativamente marcaram a imagem do clube e no qual, é bom não esquecer, foi protagonista principal.
Papel social
Taremi, jogador internacional iraniano, usou recentemente a sua notoriedade enquanto representante da sua seleção, para falar dos problemas que afetam o país a que pertence. Diz-se que as figuras públicas podem e, quanto a mim devem, não só tentar ser um exemplo para os fãs que os seguem, mas também emitir ideias, mesmo que por vezes incómodas, que possam beneficiar os direitos dos seus compatriotas ou seguidores.
Esta altruísta posição de Taremi, recordou-me uma outra posição pública que tem mais tempo, com a qual contrasta drasticamente, a de Djokovic, figura infelizmente de expressão pública muito mais global.
Quando se é ídolo de muitos, convém ter a noção das eventuais consequências do que se diz ou faz. Durante a pandemia, o tenista desvalorizou consecutivamente os alertas da OMS relativamente às precauções das quais todos nos lembramos. Quantas pessoas terão sofrido na pele a sua má influência? Será que ele tem essa noção? A consciência pesa em quem a tem."
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