"Francisco Conceição fez um bom jogo com a Finlândia e mostrou que pode ser muito útil à Seleção. João Neves foi igual a si próprio
Estamos a dois dias da nossa estreia no Euro 2024. O estágio de preparação foi curto, mas intenso. O selecionador optou por realizar três jogos particulares, ao contrário da maior parte das seleções presentes no Euro. Depois da discussão em torno da composição dos 26 convocados, muitos questionaram a opção de preparação tomada por Roberto Martínez.
Todos contam
Roberto Martínez foi claro na definição do objetivo do estágio de preparação ao referir que pretendia dar ritmo, minutos e competitividade a todos os jogadores. Analisou a época nos clubes e identificou as cargas que cada um deveria receber. Em função deste pressuposto, optou por realizar três jogos de treino que poderão, não só, dar o ritmo que todos necessitam, assim como competir frente a adversários que colocam diferentes dificuldades.
Existem muitas estratégias e todas são válidas. O selecionador podia ter optado por definir um onze e dar-lhe mais tempo, demonstrando claramente quais seriam as suas primeiras opções para o jogo frente à Chéquia. Em termos concretos, compreendo as duas estratégias, mas concordo com a abordagem de Martínez.
Por um lado, desde o início, definiu um conjunto de jogadores, praticamente certo (aproximadamente 23) e com poucas alterações. É verdade que foi criticado, mas foi essa estratégia que lhe permitiu agora dar minutos a todos os convocados (exceção a Rui Patrício).
Neste momento, ao fim de 18 meses e 15 jogos, os jogadores sabem o que o selecionador espera e necessita de cada um deles na sua função. Esta, além de ser uma vantagem, é também uma forma de liderar diferente. Demonstra aos jogadores que todos são importantes e que podem ter uma oportunidade. Prepara-os para, em caso de necessidade, estarem à altura dos acontecimentos. Cria um ambiente mais saudável entre todos, numa competição em que esperamos que estejam juntos durante um mês.
Sistema tático camaleónico
Ao longo do apuramento para o Euro, e nos últimos jogos de treino, Portugal adotou dois sistemas diferentes: 4x3x3 e 3x4x3. Se olharmos para os dois sistemas no ponto de partida, concluímos que são diferentes. Contudo, se analisarmos as dinâmicas e movimentações que Roberto Martínez implementa, em cada uma destas opções, a realidade é que são muito similares.
Por exemplo, quando Portugal joga em 4x3x3 a construção é sempre feita a 3. Palhinha recua para o meio dos centrais, os laterais sobem no terreno pelo corredor ou pela zona central (Nuno Mendes e Cancelo) e os alas jogam por dentro ou ficam abertos na linha, dependendo do movimento do lateral do seu lado. Se analisarmos, o 4x3x3 transforma-se num 3x4x3 claro e definido. Depois, dentro de cada sistema e onze apresentados, Martínez tenta aproveitar o melhor de cada um dos jogadores.
O melhor exemplo é Rafael Leão, a quem têm de ser criadas condições para que ele possa executar situações de um contra um com frequência, por ser este o seu ponto forte e desequilibrador. Por este motivo, Leão fica bem aberto na linha e quem explora o corredor central é o lateral esquerdo, Nuno Mendes ou Cancelo.
Com esta forma de jogar, a nossa Seleção fica mais imprevisível e com maior variabilidade de opções. Isto só é possível porque temos um conjunto de jogadores com capacidade para se adaptarem a esta forma de jogar e com características diferenciadas, que permitem ao selecionador agitar o jogo pelas vias individual e coletiva.
Quem ganhou pontos?
Como em todos os estágios, há sempre jogadores que aproveitam melhor as oportunidades. Neste que antecedeu a competição, dois dos benjamins tiveram destaque pelas suas prestações.
Francisco Conceição fez um bom jogo com a Finlândia e mostrou que pode ser muito útil à Seleção. João Neves foi igual a si próprio. Qualidade, maturidade e competência. Não deverá ser primeira opção, mas irá obrigar os seus colegas a não adormecerem. Vitinha voltou a demonstrar que tem de fazer parte das opções iniciais pela sua incrível qualidade, segurança e leitura de jogo.
Por fim, Rafael Leão. Quando quer é um fora de série. Parece-me que Martínez está a tentar criar condições para que Rafael possa utilizar os seus melhores atributos, através de movimentações coletivas que permitam ao jogador receber a bola na linha no um contra um.
Aprendizagem
Os jogos de preparação têm o condão de nos demonstrarem se estamos preparados para as dificuldades que vamos encontrar pela frente. Contra a Croácia o jogo foi negativo. Na minha opinião, até isto correu bem no estágio. Porquê?
Porque Portugal, com Martínez, ainda não tinha encontrado um adversário com esta qualidade. O facto de termos jogado da mesma forma e as coisas não terem corrido bem, faz-nos pensar, colocar em causa e aprender. Percebemos que frente a seleções com esta qualidade não é suficiente ter dois centrais e o Palhinha para estancar as transições ofensivas dos adversários.
Frente a jogadores com esta qualidade, Portugal terá de ter cuidados adicionais. Teremos de ter três defesas e Palhinha para conseguirmos estar equilibrados. A reação à perda também não está totalmente coordenada, o que nos torna vulneráveis. Numa Seleção, como a portuguesa, que tem os laterais expostos, temos de criar mecanismos para estarmos equilibrados. O jogo com a Irlanda foi a preparação disto mesmo. Neste jogo jogaram três centrais que não sobem e garantem a ocupação territorial.
Frente a grandes adversários, bastará acrescentar Palhinha para termos outra capacidade e nos impormos defensivamente em situação de contra-ataque ou ataques rápidos dos oponentes.
Outra conclusão é que frente a adversários mais frágeis, ou com menos qualidade técnica, não necessitaremos de tantos cuidados defensivos. Em termos ofensivos, e frente a seleções de menor grau de dificuldade, a nossa forma de jogar permite desbloquear, com maior ou menor dificuldade, os obstáculos que nos vão surgindo."
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