"As águias estavam a ter dificuldades e a ouvir assobios da Luz quando, aos 72', Riccieli fez um auto-golo e, aos 74', Otávio foi expulso, abrindo caminho para o triunfo por 2-0 na Taça de Portugal. Após um primeiro tempo cheio de situações de golo, os minhotos foram traídos pelo desacerto dos seus defesas
Estavam decorridos 70 minutos do Benfica-Famalicão quando uma sensação de dejà vu invadiu o Estádio da Luz. A equipa de Schmidt estava longe de realizar uma exibição convincente, com problemas para travar os ataques rápidos dos minhotos e apresentando uma circulação coxa, amputada de desequilíbrio a partir das alas. Como consequência, os assobios começaram a ser a banda sonora, configurando-se como indesejados convidados que já entraram no recinto dos campeões nacionais nalgumas ocasiões da temporada.
Com a eliminatória no fio da navalha, à mercê da inspiração de Di María ou Rafa ou de um contra-ataque rápido do Famalicão, foram os defesas-centrais dos visitantes que fizeram a balança pender para o lado das águias. Aos 72', após centro inofensivo da direita, Riccieli antecipou-se ao seu guarda-redes e fez o 1-0. Dois minutos volvidos, Otávio travou Tengstedt em falta e foi expulso.
Quase num abrir e fechar de olhos, o desconforto, a ameaça e os assobios foram-se embora. Para garantir que já nada de estranho ocorreria, Rafa, aos 77', fez o 2-0 final. Das dificuldades para o conforto da vitória em poucos minutos, eis um guião repetido para os homens de Schmidt.
Antes dos tiros nos pés dos forasteiros, houve um embate que poderia ter caído para qualquer um dos lados. A eliminatória trouxe vertigem e ação junto de ambas as balizas desde início. Nenhum dos conjuntos se deteve muito tempo a jogar a meio-campo, fosse por convicção ou sentido de oportunidade perante os caminhos que o adversário abria.
Do lado do Benfica, a atrapalhação da defesa do Famalicão foi explorada para conseguir, regularmente, períodos de assédios à baliza dos minhotos; a equipa de João Pedro Sousa beneficiou da pouca proteção que as águias conferiam quer ao espaço à frente da defesa, quer na direita do setor recuado, onde beneficiaram da inexistência de Di María no momento da perda de bola.
Pelo lado canhoto dos visitantes descia Francisco Moura, um lateral com potência de extremo e alma de atacante. Aqui, o bracarense teve a grande noite de glória da sua carreira, quando em novembro de 2020 bisou num triunfo do SC Braga. Depois disso, lesionou-se e esteve nove meses sem jogar, como se fosse o preço a pagar por subir tão alto. De confiança recuperada, foi o primeiro a criar perigo, quando superou Otamendi e, já na área, viu Morato evitar que o seu passe assistisse Henrique Araújo.
O Benfica respondeu, com um tiro de Aursnes para boa defesa de Luiz Júnior. Estava dado o mote para uma noite de parada e resposta: nos primeiros 30’, houve uns incríveis 17 remates, sete deles enquadrados com os alvos. O segundo tempo não teve o mesmo fulgor ofensivo.
Um dos mais insistentes foi Tengstedt, o herói improvável do dérbi que aposta na energia e movimentação para compensar a falta de brilhantismo técnico. Não fossem as intervenções de Riccelli, primeiro, e de Luiz Júnior, depois, e teria aberto o marcador. Saiu sem marcar, como sucedera nas duas outras ocasiões em que foi titular na época.
O guardião do Famalicão ia-se destacando, parando diversas iniciativas dos locais antes da traição de Riccieli. Num voo a remate de Di María mostrou ter as asas que, de momento, o Benfica não possui nas alas, sobretudo do lado canhoto, com Morato como lateral de recurso e João Mário sempre a vestir a sua pele de centrocampista.
Mantendo o contraste, o Famalicão aposta nas cavalgadas de Puma Rodríguez, o supersónico do Panamá que pega na bola, arranca, agita. Sem Di María para ajudar Aursnes, foi um dos maiores focos de instabilidade na contenda.
Após o descanso, Otamendi, após livre de Di María, foi o primeiro a criar perigo, uma ligação entre homens que há um ano escreviam história no Catar. Também Tengstedt e Rafa falharam o 1-0, antes de minutos de pouca inspiração local.
Com Schmidt a guardar as substituições para quando tudo já estava decidido, o desconforto das bancadas ia-se começando a notar. Gustavo Sá dominava no meio-campo, Puma Rodríguez parecia já não ter energia para penalizar a falta de critério na circulação do Benfica.
Como um guião que, inesperadamente, se resolve, um filme cuja trama é decidida por um assassino em série quando parecia haver ainda nós narrativos para desembrulhar, o Benfica-Famalicão resolveu-se num instante. Os pecados centrais de Riccieli e Otávio tornaram o desfecho inevitável.
Os minhotos continuam sem vitórias na Luz, contando apenas com um empate em 13 visitas. As águias, que nem têm gozado de uma grande relação com a Taça de Portugal, mantêm o bom registo caseiro na competição, na qual não são derrotadas como locais desde dezembro de 2014, então contra o SC Braga. Com o Inter, o RB Salzburg ou o Sporting de Braga como três dos próximos cinco adversários, as semanas que aí se avizinham trazem grandes testes para Schmidt."
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