"Numa tarde em que o ponto alto foi a despedida emocionada de André Almeida entre troféus e companheiros, depois de quase 12 anos na Luz, o Benfica bateu os casapianos, por 3-0, com mais dois golos de João Mário
E a Luz despediu-se de André Almeida. O lateral direito disse adeus de vez, com água nos olhos, ao lado dos troféus que conquistou e entre os companheiros, alguns de outros tempos como Luisão e Javi García. Os adeptos levantaram-se e juntaram as mãos uma, duas e tantas vezes, não esquecem os mais de 11 anos do futebolista naquela casa. Como prémio viu mais uma exibição sólida e liquida do Benfica, que marcou três golos a uma das melhores defesas do campeonato.
No regresso a casa, três jogos depois, Roger Schmidt repetiu a fórmula de Arouca. David Neres, participativo e gingão, apoiava o móvel Gonçalo Guedes (que não parece talhado para ser 9). O Benfica foi sendo mansamente avassalador. João Mário e Fredrik Aursnes tomam conta da bússola do jogo, sempre vigiados pela discrição de Florentino. Tocam bem na bola. Quando a perdem, abafam o rival. O Casa Pia cedo se viu num colete abaixo do número, não sabia como atacar a baliza de Vlachodimos. Ainda assim, os casapianos iam aguentando os ataques dos rapazes de vermelho, travando as agressões futeboleiras alheias com um 5-4-1 compacto e bem organizado e coordenado.
Afonso Taira, filho de Taira, e Cuca tentavam dar seguimento a jogadas, mas era impossível até certa altura. Romário Baró mostrava a boa técnica num palco importante. Saviour Godwin, o veloz e felino avançado, foi anónimo durante demasiado tempo. Era um jogo de resistência contra paciência.
João Mário, que fez dois golos em Arouca, mexe-se com graciosidade. Já batemos na tecla do jogar de pantufas, mas aquele peito para fora e a lentidão dão-lhe um qualquer estatuto de sábio. Foi ele quem começou a jogada para o debutante perigo. Ricardo Batista cancelou o calcanhar de Gonçalo Guedes e Lucas Soares tirou o pão da bota de Chiquinho, que vai fazendo de Enzo Fernández.
Quando o Benfica perdia a bola e não conseguia morder imediatamente, António Silva e Nicolás Otamendi tratavam de esvaziar a coragem alheia. O campeão do mundo, conta o Playmaker do Zerozero, alcançou os 150 jogos na Liga, tornando-se o quinto argentino com mais partidas no nosso país, atrás de Salvio (166), Lucho (168), Ávalos (186) e Gaitán (189).
Alexander Bah era o jogador mais solicitado para os desequilíbrios, mas o dinamarquês não estava certo no cruzamento e no passe. A recompensa chegou mais tarde quando, depois de uma correria imensa, talvez de 50 metros, marcou um belo golo com a canhota. Foi o 3-0, aos 71’. Nunca tinha feito tal coisa pelo clube.
Antes, João Mário já marcara dois golos. Quase dois passes para a baliza de Batista. No primeiro, Guedes inaugurou uma manobra de diversão pela esquerda e a bola entrou em David Neres, já na área. O brasileiro tocou para trás como dizem os manuais modernos. A seguir, depois de combinação entre Florentino, Chiquinho e Grimaldo, a bola aterrou no segundo poste. João Mário mergulhou com a bota e fez o 16º golo na temporada, 12 na Liga, os mesmos que Gonçalo Ramos e Fran Navarro, os melhores marcadores. Já Neres assinou a 10.ª assistência em todas as competições nesta temporada. Entre esses dois momentos, naquela fortaleza inspiradora fardada de preto brotaram fissuras.
Quando se joga contra um bloco baixo, bem trabalhado e harmonioso, a paciência é importante, a velocidade da bola idem, assim como a atração do rival para abrir buracos. Mas há algo mui, mui importante: movimentos que nem visam necessariamente receber a bola. Essa parte é difícil. Convencer jogadores a fazerem corridas nas quais sabem que é improvável receberem a bola é um desafio imenso. Mas são esses movimentos que levam marcações ou que abanam estruturas, ou que abrem pequenos espaços. E pequenos espaços traduzem-se em tempo. Quando os avançados atacam as costas de uma linha defensiva, mesmo que recuada, há sempre uma desestabilização importante. Há equipas que o estudam, que medem os metros que certas corridas provocam entre as linhas da defesa e do meio-campo. Gonçalo Guedes e Gonçalo Ramos são futebolistas com essa silenciosa e pouco estridente disponibilidade e isso pode ser decisivo em certos momentos do jogo.
O ritmo do jogo na segunda parte caiu um pouco, ainda que se tenha visto um Casa Pia mais atrevido ou pelo menos com essa intenção. O Benfica continuou com muita bola, mas já estava tudo resolvido. Deu para ver o regresso de Rafa Silva, que quase marcou assim que entrou, rindo-se a seguir à defesa de Ricardo Batista. Aursnes ameaçou o 4-0. A bola, que tresandava a mel, saiu da bota do número 20, o tal marcador de dois golos.
Numa altura em que os senhores de Pina Manique caminhavam para a terceira derrota em quatro jogos, num desfecho inquestionável, o jogo deu uma volta perfeita quando, após a homenagem a André Almeida no início, viu no final algo semelhante para o futebolista do momento: João Mário. As palmas são beijos de admiração. O médio, outrora capitão na formação do Sporting e adulto desde menino, tem um peso importante na qualidade do jogo da equipa de Schmidt. E está feliz, isso vê-se a léguas."
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