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sábado, 27 de agosto de 2022

”Garanto-te que no Porto… [...]… nunca eras detido!”


"Terá sido esta a frase que Pinto da Costa disse a Luís Filipe Vieira e que, segundo o “Correio da Manhã”, está no livro que brevemente será publicado sobre o ex-presidente do Benfica. O líder do FC Porto, neste caso, não estará a mentir. Aqui, justiça seja feita, sabe do que fala. Conhece, influencia e controla os caminhos da Justiça na “sua” cidade. São, agora como se diz, #40anosdisto.
Ora vamos lá esmiuçar isto tudo:
O “Apito Dourado” terá sido o processo mais mediático a envolver Pinto da Costa e o FC Porto, mas, na verdade, foi apenas mais uma das muitas situações em que o presidente do FC Porto teve oportunidade de impor a sua figura de líder regional, saindo de um processo negro, vergonhoso, lamentável, sujo e corrupto… apenas com dois ou três “arranhões”. Para a eternidade ficam – pelo menos – as escutas que estão no Youtube e que, vá lá saber-se como, ninguém conseguiu impedir que ali fossem alojadas.
Há quem diga que foi avisado diretamente por um alto funcionário da Polícia Judiciária, há quem garanta que foi Joaquim Pinheiro, irmão de Reinaldo Teles, a contar ao presidente do FC Porto que, no dia seguinte, iria ser detido e alvo de uma busca domiciliária no âmbito do processo “Apito Dourado”. A PJ viu, assim, frustrada a sua estratégia e não pôde surpreender o suspeito, que já se encontrava em Vigo à mesma hora em que se iniciava a operação de busca. Pinto da Costa foi, aliás, o único suspeito que conseguiu não ser surpreendido pela equipa da Judiciária que investigava o caso.
Após ter regressado de Espanha com a sua companheira de então, Carolina Salgado, Pinto da Costa teve mesmo de comparecer no Tribunal de Gondomar, onde foi ouvido durante cerca de cinco horas. Para a história fica a célebre imagem do presidente do FC Porto a chegar ao tribunal com um pelotão de guarda-costas, quase todos elementos destacados dos Super Dragões, entre os quais Bruno Pidá, que alguns anos mais tarde, no processo Noite Branca, viria a ser condenado a 23 anos de prisão na sequência do seu envolvimento na morte de um segurança.
Todos sabemos, mas nunca é demais lembrar: trata-se de uma longa história feita de tráfico de influências, corrupção e subornos através da constituição e controlo de uma teia construída – muitos anos antes, segundo suspeita da investigação – para beneficiar um conjunto de destinatários, com particular destaque para o FC Porto. É famosa a visita de um árbitro a casa de Pinto da Costa, como são famosas as histórias da fruta ou das duvidosas cumplicidades com empresários de futebol – num cardápio de tópicos quase sem fim.
A ex-companheira de Pinto de Costa, Carolina Salgado, contou em livro, em 2006, aquilo a que assistiu enquanto viveu com o presidente do FC Porto. Carolina acusou, entre outras coisas, Pinto da Costa de ter mandado espancar pessoas e de ser também ele o autor moral da agressão a um então vereador do PS em Gondomar, Ricardo Bexiga – alegadamente, quem deu origem ao processo “Apito Dourado”. O advogado foi alvo de um ataque de dois homens encapuzados quando saía do seu escritório e teve de ser suturado na cabeça com 17 pontos. “Fiquei chocada. Quando lá cheguei, o doutor Lourenço Pinto disse-me: ‘Parabéns, querida, mas ele ficou a falar.’ O objetivo era muito mais do que isso…”, conta Carolina no livro, acrescentando que não se sentia tranquila por ter estado envolvida no caso e que se encontrava preparada para assumir as consequências. Porque não foi possível a Ricardo Bexiga identificar os agressores, o caso foi arquivado pela equipa de coordenação do “Apito Dourado”. O livro, tal como as escutas, ainda resiste. ”Eu, Carolina – A História Verdadeira” continua disponível. São 157 páginas que valem a pena ler.
Há muitos episódios de jogadores do FC Porto que se tornaram indesejados no Dragão (e nas Antas) e que, de um dia para o outro, sentiram o chão a fugir. O brasileiro Adriano, por exemplo, tinha contrato até 2010. Um ano antes, porém, foi “aconselhado” a sair. Não quis. Foi espancado e sofreu um traumatismo craniano. Apresentou queixa. O caso de Paulo Assunção – que se recusava a renovar – ficou célebre, mas não deu em nada. Foi abordado por um grupo de cinco desconhecidos, junto ao centro de treinos, e ameaçado com uma pistola encostada… ao joelho. Luís Fabiano também foi vítima de um ataque violento. Já o carro de treinador, Co Adriaanse, foi bloqueado e atingido por um very-light.
Consequências de tudo isto? Zero.
Cumpre-se uma década a 22 de novembro: Mesquita Alves, diretor da Porto Comercial, apareceu morto numa casa-de-banho do Estádio da Dragão, após o almoço. Foi encontrado no chão, após um tiro de revólver. Um caso misterioso para o qual nunca houve uma explicação.
Reza assim a notícia do “JN”, publicada a 10 de fevereiro deste ano: “Júlio Braga, o procurador coordenador da seção de investigação de crimes tributários do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que tinha a seu cargo a investigação “Fora de Jogo” sobre fraude fiscal no futebol, faleceu em serviço, no Porto. O procurador, de 64 anos, esteve no Porto na terça-feira para proceder à abertura de e-mails de um telemóvel de um dos principais arguidos, quando se sentiu indisposto. Pediu para ser conduzido ao hotel, onde estava hospedado, mas acabou por não resistir, ao que tudo indica, a um ataque cardíaco (…) Foi cremado no Porto após a autópsia.”
Agressões a jornalistas no velho relvado das Antas. Guarda Abel a atacar dirigentes adversários (entre os quais o presidente do Benfica, João Santos). Comissões escandalosas em compras e vendas de jogadores (que mereceram tarjas de repúdio por parte dos próprios adeptos), roubo de e-mails roubados a um rival, emboscadas a presidentes na garagem do Dragão, agressões a um profissional da TVI em Moreira de Cónegos, com Pinto da Costa a assistir a tudo e, entre tantas outras coisas, a inesquecível chegada de Pinto da Costa ao Tribunal de Guimarães, onde foi ouvido no âmbito da Operação Fénix (alegada utilização ilegal de seguranças privados), com mais uma cena nada edificante com uma jornalista (da CMTV, neste caso). Há de tudo e… tudo continua. Ainda na semana passada, na Alameda do Dragão, a mulher do líder dos Super Dragões, Sandra Madureira, ameaçou uma adepta do Sporting na presença de seguranças, com a maior das naturalidades, como se aquilo fosse território seu. Bem vistas as coisas, se calhar, até é.
”Garanto-te que em Lisboa… [...]… eras mesmo detido!”
A idade já vai avançada, é verdade. Há crimes recentes, mas também há muitos que já têm barbas. Resta-nos, pois, o Youtube, o livro de Carolina Salgado, o mais recente livro ( à venda apenas online) do Guachos Vermelhos e a certeza de que a verdade não prescreve.
#jásão41anosdisto"

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