"Seis vitórias em seis jogos no campeonato é um registo importante, até porque mantém em aberto a minha expectativa, que é a mesma todas as temporadas: vencer as 34 jornadas. Qualquer resultado abaixo deste é uma desilusão tremenda. Cada jogo sem conquistar os três pontos significa uma semana inteira sem apetite. Na época passada, o Benfica ganhou 23 jogos em 34 possíveis. Foram 11 semanas a comer sem vontade. E atenção, claro leitor: comer é uma das minhas actividades de eleição. Se considerarmos que um ano civil é composto por 52 semanas, então podemos concluir que, entre junho de 2020 e junho de 2021, eu passei 21,15% do tempo a alimentar-me de bolachas de água e sal e línguas de gato. Isto não é vida para mim. O menu das minhas refeições depende directamente da inspiração do Darwin e do Yaremchuk, e o mais estranho é que eu concordo racionalmente com isto. É um contrato emocional que já me trouxe inclusive problemas em casa. A minha mãe põe um peixinho a descongelar no domingo à noite, e na segunda-feira eu digo-lhe que vou antes jantar uma taça de leite com estrelitas, porque o Benfica foi ao Bessa levar três secos? É algo que não posso controlar, mas claro que me sinto mesmo muito mal com um episódio destes. Sobretudo porque estamos a falar de uma derrota que nos custou a liderança. Desta vez, a sexta jornada foi novamente com os axadrezados e uma segunda-feira à noite, no entanto o desfecho foi diferente. O Benfica ganhou, e cá em casa não ficou a sobrar comida na mesa. A minha mãe já desistiu de cozinhar em dia de jogo, então desenrasquei-me com umas belíssimas tostas com marmelada. Souberam a pato."
Pedro Soares, in O Benfica
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