"A ameaça da Super League está (por agora) afastada. Mas tal como nas aventuras de Astérix, também nesta existem dois irredutíveis que continuam a defender os méritos da iniciativa e se recusam a declarar derrota: Real Madrid e Barcelona, nas pessoas de Florentino Pérez e Joan Laporta, os seus presidentes.
Não deixa de ser curioso ver dois clubes assentes no modelo tradicional associativo, com máximos responsáveis eleitos entre e pelos sócios, serem precisamente aqueles que mais se agarram ao fiasco desesperado que desenharam em cima do joelho. Mas para lá da origem nacional e do modelo de clube, o que unirá de forma tão forte e determinada, dois emblemas que têm até uma rivalidade histórica e culturalmente bem cavada? A resposta é tão simples quão preocupante, sobretudo para eles: a situação financeira catastrófica, actual (Barcelona) ou prevista (Real Madrid), de dois clubes que se habituaram a liderar o futebol (e o mercado) mundial e que, fruto das suas limitações, modelos e, sobretudo erros, vêem fugir cada vez mais depressa uma hegemonia global que não aceitam perder.
Desta feita, ao invés de vos maçar com a minha escrita, convido-vos a compreender tudo através de dois excelentes “explicadores” da Tifo Football. O primeiro incide no caso do Barcelona, cujo caso é o mais grave no curto prazo. Perceba agora porquê e prometo-lhe que vai sorrir perto do final, relembrando que este vídeo foi publicado uma semana antes do anúncio da falhada Super Liga.
Já o Real Madrid pode não viver (ou deixar transparecer) tamanhas dificuldades, quando comparado com o seu rival, mas nem por isso antevê um futuro risonho, muito menos um compatível com as suas ambições. Quem ouviu a inenarrável demonstração de arrogância de Florentino Pérez na TV espanhola, na véspera de todo o seu plano ruir, terá reparado nos mesmos sinais que anotei. No meio das promessas de defesa e revolução do Futebol, Florentino deixou escapar, por mais do que uma vez, a gravidade da situação financeira do Futebol (leia-se a sua), chegando ao ponto de afirmar que os clubes (leia-se o seu) não resistiriam até 2024, a data de arranque do novo modelo de Champions League proposto pela UEFA.
Se Laporta luta pela sobrevivência, Pérez sabe que está a perder progressivamente a capacidade de construir equipas “galácticas” e hegemónicas, o único modelo que conhece. Ambos correm contra o tempo e limitados pela sua capacidade de inverter o declínio, de outra forma que não passe pela geração de maiores receitas, à custa do que for. Alguma vez os ouviu advogar o caminho inverso, o da racionalização do negócio do Futebol? Pois, também eu não.
Veremos o que o futuro reserva, a estes homens e aos seus clubes, mas é seguro acreditar que o fiasco da Super Liga não será a última jogada que elaborarão, na tentativa desesperada de enfrentar um futuro difícil. Não admira assim que sejam estes os últimos dois ocupantes da última trincheira de um exército que os abandonou com a mesma rapidez com que aceitou apoiar a sua loucura anti-natura."
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