"O trabalho de Albert Bandura (1977) lançou a perceção de auto-eficácia no terreno da literatura científica da Psicologia, demonstrando o seu papel decisivo no que respeita à nossa predisposição para a aprendizagem, à nossa capacidade de mobilizar a nossa vontade (motivação), à nossa capacidade de concretização e até mesmo de autorregulação emocional.
Desde então, um sem número de investigações tem sido globalmente desenvolvido, demonstrando o seu impacto (no que respeita, por exemplo, à nossa capacidade em sermos persistentes face à prossecução de um objetivo) em áreas tão distintas como a da educação, a do desporto, a das empresas, mas também a da saúde e bem-estar. Não sendo este o contexto de um maior aprofundamento acerca das implicações que este tipo de linha de investigação pode operar nas nossas vidas se a conseguirmos traduzir em ações concretas do quotidiano, importa considerar que a nossa perceção de auto- eficácia é fortemente influenciada pelos modelos que temos à nossa volta e que, do ponto de vista do seu comportamento, nos mostram como é possível ultrapassar uma dada barreira ou lidar eficazmente com um certo desafio.
Modelos e Mentores
Quem poderiam ser estas pessoas? Não se torna necessária uma busca exaustiva, uma vez que frequentemente eles podem ser encontrados num irmão mais velho, numa figura parental, num professor, num colega, num treinador, num líder – pessoas que, encontrando-se nos contextos de maior relevo social (casa, família, trabalho e desporto) nos permitem descobrir coisas acerca de nós próprios, acerca da forma como nos relacionamos com o outro e com o mundo em geral.
Pessoas que, muitas vezes inadvertidamente nos ensinam, nos reforçam e nos fazem sentir que é possível e que também podemos ser capazes – na realidade, pessoas que nos inspiram.
São fáceis de identificar:
dedique um minuto para fazer um “fast-rewind” na sua vida e observe quem se destaca. Para mim, e sem qualquer dúvida (e de entre muitos outros), o meu irmão (por todas as razões e mais algumas), dois professores (Dr. Miguel Faro Viana – pela capacidade em “ligar os pontos fora do quadrado”, pela integridade, ética, respeito pelo outro e pelo trabalho; e o Prof Dr. José Cruz - pela irreverência, pelo desafio, pelo respeito e sentido de privilégio em poder trabalhar com os melhores atletas e treinadores nacionais, mas também pela confiança e reforço positivo), uma colega (Prof. Dra. Maria João Gouveia, enorme exemplo de integridade, profissionalismo e, acima de tudo, generosidade e autenticidade que atua com os alunos com quem assume mentoria) e alguns atletas/clientes que, por razões óbvias, não poderei comentar neste contexto – todos eles figuras de enorme importância na consolidação do meu desenvolvimento pessoal e profissional e cujas ações transporto todos os dias na forma como se mantêm presentes no meu próprio comportamento.
Eles estão, de fato à nossa volta.
Estamos, no entanto, a falar de modelos e mentores, frequentemente, informais – mas
agora, mais do que nunca, Modelos e mentores formais precisam-se!
Quando a Expetise Emocional Se Sobrepõe à Expertise Técnica
Levo mais de 15 anos a falar com organizações desportivas e não desportivas (dirigentes, administradores, gestores e empresários) acerca da necessidade de serem trabalhadas as competências emocionais de quem dirige, lidera, influencia e agrega à sua volta um conjunto de pessoas que deve inspirar, fazer desenvolver e potenciar.
Eu e tantos outros colegas que certamente percorrem o mesmo caminho, não por acreditar numa “pedagogia de trazer por casa” focada em comportamentos “desejáveis”, mas porque este tipo de orientação se encontra fortemente alicerçada em décadas de investigação científica que nos Prova que, de facto, se as pessoas se encontrarem fortemente comprometidas com os seus contextos de relevância social (casa, escola e profissão), não só teremos pessoas mais saudáveis e equilibradas (com elevados indicadores de bem estar físico e emocional, logo com menor prevalência de questões relacionadas com a saúde física e mental – imagine-se a redução de custos para a Saúde Pública...), mas também organizações mais eficientes e sociedades mais cooperantes.
Mas como podemos exigir esta capacidade de literacia emocional em quem dirige uma turma, uma equipa ou um departamento se, eles próprios, não foram expostos a um contexto de aprendizagem onde pudessem ver as suas competências emocionais reforçadas?
Ao fazê-lo estamos apenas à procura de “bodes expiatórios” e não de soluções concertadas que nos possam ajudar a dar este salto desenvolvimental imprescindível. Este não é o tempo de “wishful thinking” (tipo “vai tudo correr bem”) ou de apostar naquela “gama” de motivadores e/ou “coaches yes you can” que se agigantam nas fases de maior fragilidade humana e que, sem qualquer rigor científico, contribuem apenas para uma momentânea sensação de que “está tudo bem” que, invariavelmente, resultará apenas num agravamento desnecessário e irresponsável da situação.
Exige-se, por isso, e desde há muito, que as diferentes organizações apostem na capacitação dos seus “modelos e mentores” através da implementação de programas de reforçada solidez científica que possam integrar a visão mais avançada do que a ciência produz e a expertise de quem, no terreno, pode operar a implementação da mesma no quotidiano de cada um de nós.
E se, no período pré-pandemia as entidades poderiam se “desculpar” (de uma forma não consciente ou pouco pensada) de que este tipo de temas seriam uma segunda linha de prioridade a seguir à aposta nas competências técnicas, neste momento, o mesmo comportamento só poderá ser catalogado de negligência e irresponsabilidade."
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