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sábado, 6 de fevereiro de 2021

Lembras-te da tua primeira memória de Benfiquista?


"A minha tem o número 2 cravado nas costas avançando de cabeça baixa para a marca dos 11 metros. O meu pai estava ao meu lado a olhar para a televisão e tudo por ali era ansiedade e silêncio. E eu não percebia o porquê do meu estômago começar a sentir-se apertado enquanto a respiração parecia não querer obedecer ao natural equilíbrio do corpo. 
O Veloso remata para a esquerda, sem força, e o guarda-redes do PSV Eindhoven, Van Breukelen, voa para a vitória na Taça dos Campeões naquele derradeiro penálti. Estávamos em 1988, o meu pai não emitiu qualquer som, baixou a cabeça como que a imitar o gesto do Veloso e aqueles segundos souberam a eternidade a fintar a glória, mais uma vez. E eu? Eu tinha 8 anos e apaixonei-me violentamente pelo Benfica naquela noite de Estugarda.
Dois anos depois, pela frente o colosso AC Milan de Arrigo Sacchi. Nova final. Eu já percebia umas coisas da bola e sabia que o Maldini, o Baresi, o Gullit, o Rijkaard, o Van Basten, só para abrir o leque de talento puro, eram areia demais para a nossa camioneta. Ainda assim acreditava e acreditei que o Benfica carregava o nome de Glorioso por alguma razão e que as almas do Thern, do Magnusson, e do Valdo seriam suficientes para trazer o caneco para Lisboa. O minuto 68 encarregou-se de me explicar que não seria assim. Van Basten levanta a cabeça, mete no Rijkaard e este, com a parte de fora do pé direito, atira o Milan para mais uma Taça dos Campeões. 1-0 em Viena. O meu pai estava ali ao meu lado, de cabeça baixa a imitar o Silvino, outra vez. Não te incomodes Silvino, eu vou buscar a bola ao fundo das redes. A nossa hora há-de chegar, foi o que o meu pai me disse em surdina mesmo antes de apagar a televisão.
Novembro de 1991, Já não me lembro o dia, sei que a semana estava pela metade e eu tinha aulas no dia seguinte, tive de ir para a cama cedo mas conseguia ouvir o som da televisão no andar de cima, no escritório do senhor que me ensinou a ser do Benfica. A televisão estava aos berros e precisávamos de ganhar ao Arsenal, no mítico Highbury Park, tínhamos empatado na Luz 1-1. A televisão estava aos berros e eu de pé em cima da cama, às escuras, para ficar mais próximo do tecto e ouvir melhor o Isaías a rematar de fora da área e a calar os ingleses, não uma mas duas vezes. A televisão estava aos berros e o meu pai também. E eu também, de pé em cima da cama, às escuras a imaginar como teria sido. Foda-se, até me arrepio só de pensar nisto. Comecei a chorar como uma criança que ainda era, talvez o meu pai estivesse a chorar também no andar de cima. Ganhámos 1-3. Era Novembro, eu não me lembro do dia mas do escuro do quarto caíram-me lágrimas de glória. A televisão continuou aos berros pela noite dentro.
Porra! E o Bayer de Leverkusen?! Recordam-se? Eu ajudo-vos. Parece que foi ontem. Março de 1994. Fomos à Alemanha a precisar de varrer o jogo a nosso favor. O empate na Luz tinha dado um nó difícil de desatar para seguir até às meias-finais na Taça das Taças. Os gajos tinham o Kirsten e o Schuster que eram um perigo do caraças. Nós entrámos no jogo com pezinhos de lã e não tarda um fósforo já estávamos a levar duas batatas. Mas depois, em 2 minutos, com o Rui Costa a liderar a orquestra, marcámos 2 golos de enfiada, primeiro Abel Xavier, depois João Vieira Pinto e eu aos berros, possuído, de pijama e pantufas. Mas os sacanas dos alemães eram um osso duro de morder e dou por mim a perder por 4-3. Até que… até que o João Pinto arranca por ali fora, mais uma vez (quantas foram nesse jogo?), parte a defesa com um passe de outro planeta e o Kulkov assina uma página de imortalidade. 4-4! Chorei outra vez. Parece que foi ontem bolas, de olhos vidrados, de pijama e pantufas a gritar Benfica até as minhas cordas vocais pedirem arreio. Parece que foi ontem.
Dois meses depois, o jogo de uma vida para o número 8 da Luz. Alvalade e o título ali tão perto. 1-0 marcou o Cadete, depois o Figo também fez o gosto ao pé (foi de cabeça mas pronto), e o número 8 prestes a abrir o livro. E quando o fez, não abriu o livro, escreveu-o na relva com chuteiras pretas e brancas que na época não havia cá botinhas às cores. Devia ter ganho o Pulitzer o sacana do João. Hat-trick e o resto já se sabe, vencemos 3-6! Era o João pelo meio, era o João pela esquerda, era o João pela direita, era o João de cabeça, era o João com os pés. Era o João no Olimpo a fazer-me acreditar que Deus pode existir num jogo de futebol. Campeões e eu no estádio a festejar o último campeonato antes do que veio a seguir.
Deserto. O Damásio e o Vale Azevedo amolgaram-me a querença que Cosme Damião começou. Não jogávamos um caracol à chuva. Anos a fio. Foda-se. Levar 7 do Celta? Ainda hoje carrego a cicatriz dessa noite. Carregá-la-ei para sempre. Lembram-se do Tahar, do King ou do Clóvis? Não? Ainda bem. Podões vestidos de vermelho. E rodeado destes caramelos entrei eu na idade adulta sem nunca saborear o quente metal prateado da vitória. Anos a fio.
Mas, a paixão, essa eterna velhaca, continuou sempre por cá, nunca se foi embora. Como poderia? Afinal é o Benfica. O meu Benfica. E após todos estes anos de altos e baixos, de pé agora no cume da montanha do Tetra, sinto-me como da primeira vez, sinto-me como aquele miúdo que se apaixonou na noite de Estugarda com o meu pai ao lado de cabeça baixa sem imitir um som, a imitar o Veloso depois do penálti falhado."

3 comentários:

  1. Nesta época miserável, e no estado actual de coisas(confinamento), deu-me pra pesquisar sobre participações do SLB em torneios internacionais oficiais ou particulares por convite realizados no estrangeiro, sobre os seniores e es escalões de formação, nos seniores e até ao dia de hoje consegui encontrar 43 Conquistas do SLB em Torneios com estas características, obviamente que alguns são quase irrelevantes, a maioria foram em compita contra grandes nomes do Futebol mundial, conquistámos torneios em que estavam presentes clubes como o AC Milan, Real Madrid, FC Barcelona, Liverpool, Penarol, Cruzeiro, Bayern, Ajax, Anderlecht, Atlético de Madrid, PSG só para citar alguns, e em Torneios com muito prestígio ao ponto das melhores equipas mundiais darem primazia a esses torneios em detrimento de provas nacionais importantes como as Taças Nacionais, o SLB conquistou o Ramon Carranza por duas vezes, o Teresa Herrera uma vez, a Pequena Copa do Mundo uma vez, o Torneio de Paris, de Amsterdão, o Dubai CUP, o Cidade de Vigo, O de Belo Horizonte, o Troféu João Havelange nos Estados Unidos, o Nereo Rocco entre outros, Só não conquistámos torneios na Oceania, mais conquistas que o SLB, só o Penarol(54) e AC Milan(48).
    Nos escalões de formação e até ao dia de hoje, pesquisei inúmeros torneios, sobretudo na internet mas também em publicações que possuo, 123 Torneios Internacionais realizados no estrangeiro conquistados pelas equipas de formação do SLB...elaborei um ranking e e segundo clube no mundo que se aproxima do SLB é o FC Barcelona com 78 conquistas...o FCP 51, SCP 46 estão bem abaixo, todas estas pesquisas estão em tópicos que criei no fórum ser benfiquista.com, estão postados neles listas com os torneios, fontes dos mesmos e na maioria os palmarés completos de todos os vencedores dos respectivos torneios, basta procurarem lá o user/membro "IPASLB" e enviares-me mensagem pessoal e eu com todo o gosto indicarei os tópicos.

    O historial do SLB ninguém irá apagar, nem quem hoje se julga o dono do SLB!

    O SLB é o único clube português que foi Bicampeão Europeu, tal como o FCP foi o único clube português Pentacampeão Nacional.

    O SLB é também o único clube português que conseguiu 3 finais consecutivas na principal prova internacional entre clubes, é segundo a UEFA o clube dominador da década de 60, basta relembrar que além do Bicampeonato Europeu, foi 3 vezes Vice campeão europeu.

    Foi o único clube português que venceu a Taça da Europa Latina( nome oficial dado ao torneio criado pela FIFA, vulgarmente conhecido hoje como Taça Latina, tal como a Taça Mitropa que oficialmente era denominada de Taça da Europa Central).

    Em 1968 o SLB foi considerado a melhor equipa europeia pra France football, a melhor equipa do ano 5 vezes pela publicação World Club Ranking, 3 vezes líder pentanual dos rankings da UEFA!

    De 2007 a 2015 obteve o Record do Guinness do clube desportivo com maior número de associados no Mundo!

    Pela FIFA numa votação o SLB foi considerado o 12° clube no Mundo e o 1° clube português!

    Melhor Academia de formação por duas vezes por uma entidade privada.

    Mais títulos oficiais no principal, Futebol;88, o FCP tem 79 e o SCP 52.

    Mais títulos nas principais modalidades entre clubes(desportos com equipas profissionais/5 desportos de Pavilhão) Futsal, Basquetebol, Andebol, Hóquei em Patins e Voleibol(e poderíamos juntar o Ciclismo de Estrada que também se insere nas características acima mencionadas;

    SLB 232 Títulos oficiais, FCP 163, SCP 132.

    Por uma ou duas épocas mesmo que miseráveis no Futebol, por uma direção que já não deveria estar a presidir o clube não é razão para me deitar abaixo a mim nem a nenhum Benfiquista que tem muito orgulho de ser do maior e do melhor clube desportivo português e de um dos maiores e melhores do Mundo!

    Rua, Vieira e viva o SLB!

    Deus acima de tudo e todos!

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    1. Ou arrepiamos caminho, ou então até ao fim deste mandato este avanço de 9 troféus fica esse reduzido a 0, e se não houverem mudanças directivas até ou em 2024, lá para 2028 já estaremos atrás deles.

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