"Proponho, a todos os editores de dicionários ilustrados, que se passe a usar uma imagem de Lito Vidigal a acompanhar o adjectivo antitético. O homem é treinador de futebol, mas não é futebol que treina.
Sendo justo, todos os princípios elementares do jogo podem ser identificados no futebol, que não é futebol, de Lito Vidigal: onze jogadores de cada lado, duas balizas e uma bola. Alternadamente, em cada parte, numa das balizas evita-se a todo o custo que a bola entre, na outra, mesmo que por mera casualidade, pretende-se que a dita atravesse a linha de golo.
Creio que, para se ser um jogador de futebol que não jogue futebol sob as ordens de Lito Vidigal, são necessárias características especialíssimas, entre as quais predomina a gestão inteligente da dor, aguda em vantagem, inexistente em desvantagem. Valoriza-se muito, também, a apetência para a dramatização. E mais é pedido a outros profissionais como, por exemplo, o homem/mulher do spray milagroso, a quem se recomenda apurada forma física pois, não sei se será boato, consta que, em vantagem, chega a correr mais do que alguns jogadores durante os jogos.
Junte-se a um adversário desta estirpe a repetida coincidência do estado do relvado se adequar, na perfeição, a esta abordagem antitética do futebol e, em mais ocasiões do que as desejadas, que até nem me parece que tenha sido o caso desta vez, os árbitros permissivos ou colaborantes, e assim se torna possível que um treinador de futebol que não treina futebol lá vá sobrevivendo no mundo do futebol...
P.S.: Não me apercebi logo do penálti sobre Everton, mas tive a certeza imediata que não seria assinalado. Vasco Santos, no VAR, dá-nos garantias quanto à previsibilidade das decisões."
João Tomaz, in O Benfica
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