"1. O arbítrio é, seguramente, um dos dons mais diferenciadores e mais misteriosos dos humanos: os burros, por exemplo, ou os leões, e também aqueles lagartos grandes que, por causa da mítica azia (sem sequer serem capazes de zurrar, nem de balir), só vomitam perpétuas e enxofradas fumigações, serão eles, uns e outros, capazes de exercer o mister do arbítrio?
2. Não me parece. Pelo contrário: na ocasião primacial, desgraçadamente, o supremo criador terá optado por não ceder a estas e outras espécies a percepção de tudo o que representa a capacidade de destrinçar, de escolher e de julgar, com que, na sua prudente benevolência e ainda do bíblico diluvio, entendeu atribuir a (apenas alguns) humanos. E nada mais.
3. Talvez por isso, afinal (ai de nós!), o correcto uso da faculdade arbitral em todo o seu esplendor seja tão raro e tão intermitente e não menos escasso até, de tal forma, que a sua fruicção se revele tantas vezes a desfavor de tanta gente.
4. Infelizes daqueles a quem caiba estar sujeito - ou tenha de se render - à terrível circunstância de se ver julgado por humanos congéneres (em todo o caso, por vezes tão parecidos com os asnos, ou com os répteis) aos quais, por seu turno, ninguém regressivamente venha a pedir contas. Por exemplo, depois de conhecidos períodos de noventa minutos.
5. Deram-lhes o poder e está dado: depois, ninguém lhes toca. Nem o criador. Nem, muito menos, o Fontelas.
6. Esta preocupada reflexão acerca do desígnio arbitral, voltei a experimentá-la há poucos dias.
7. Dei-me a crer que a designação do árbitro alemão Brych, Feliz Brych, pressurosamente anunciada pela UEFA, oito dias antes, para o decisivo jogo de terça-feira, em Salónica, representa mais do que uma mera negligência dos mandantes.
8. Mas a simples observação da ficha de múltiplos desempenhos controversos, se não demasiado negativos do boche, em anteriores encontros seus com os futebóis de portugueses, italianos, franceses e sérvios, pelo menos, deve deixar-nos de sobreaviso, já que nos país dos cofres fortes ninguém liga meia a estas filosofias.
9. Com efeito, se da folha do pesporrento bávaro também consta ter tido de assistir (certamente inconformado) há dois anos, à expressiva vitória do Benfica na mesma cidade do norte da Grécia por 4 a 1, não se pode depreciar o facto de que, só nos 71 jogos que já assobiou em Qualificações e (na) Champions, ele ter mostrado nada mais, nada menos do que uns escassíssimos 299 'amarelos'!
10. Mas, em especial, jamais esqueceremos a vergonhosa prestação dedicadamente antibenfiquista do mesmo 'artista' (que ostenta o títlo de jurista, segundo o Direito alemão) na negra final de Turim, contra aquela equipa em que jogava o mais rasteiro (e mais baixote) guarda-redes do futebol de todos os tempos, à qual esse tedesco ofereceu quatro penáltis de mão beijada - o que não marcou a Moreno, em descarga sobre Lima, e mais os outros três que expressamente não mandou repetir ao adiantando lagarto.
11. A minha dúvida relativamente à razão para o autêntico assalto à lei do bom senso que a espúria nomeação do sinaleiro alemão para um jogo desta relevância significa consiste em decidir-me se aqui se trata de mais um caso da esfera da proverbial insensibilidade cega dos amanuenses do Comité de Arbitragem no país dos relógios de cuco quanto à exigência da melhor aplicação das regras do Futebol ao jogo jogado, ou se o vírus da incompetência e da parcialidade arbitral portuguesa não terá já contaminado fatalmente os congéneres institutos de Nyon."
José Nuno Martins, in O Benfica
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