"Inspirado pelo 13 de Maio, esta semana vou falar sobre os métodos espirituais e etéreos do futebol. Não se riam, eles existem. Meus amigos, acham mesmo que se ganham jogos com trabalho e tácticas? Desenganem-se, pá. O que ganha jogos são as crenças místicas e divinas, vulgo superstições.
Exemplifico:
Entrar em campo com o pé direito é uma das maiores crenças místicas entre jogadores de futebol, é verdade. Será porque o pé direito é mais crente que o esquerdo? Será mais gerador de felicidade? Não se sabe, mas não vale a pena correr riscos. Da última vez que entrei em campo com o pé esquerdo num jogo entre amigos, perdi o jogo e tive imensa comichão no pescoço. Assim, do nada. Dá que pensar, não dá?
Outro método espiritual muito usado por jogadores é aquele em que tocam com a mão na relva, benzem-se três vezes e depois entram em campo dando vários saltinhos sobre um só pé enquanto apontam com os dedos indicadores para o céu.
Bolas, isto tem que dar direito a uma ajudinha lá de cima. Já viram bem a canseira? Nem o Paquito Cardinali conseguia fazer isto. Pior: e se se enganam a meio e têm de recomeçar? E se se benzem duas vezes em vez de três? Pumbas, toca a repetir tudo. Os pobrezinhos já começam o jogo exaustos, claro que devem ser beneficiados pelos deuses da bola.
A coisa melhora ainda mais se tiverem um guarda-redes que, antes de começar o jogo, se ajoelha debaixo da baliza e aponta para o céu falando com o Senhor quase a chorar. Todos sabemos que o Senhor lhe vai dar uma atenção especial no resultado, pois se não der a quem se põe nestes preparos, dará a quem?
Mas uma das maiores crenças místicas do futebol não está no relvado, mas sim no banco: ter um treinador com uma santinha na mão durante o encontro. Esta é, de facto, uma enorme vantagem competitiva, pois é como ter uma Maya pessoal em tamanho miniatura, mas que realmente acerta no futuro.
Como se tem verificado em tantas vitórias de quem segue esta superstição, ter uma santinha na mão é melhor do que ter dois guarda-redes a voar, provavelmente porque a santa levita e vai buscar a bola lá mesmo ao cantinho da baliza.
Mas ao nível da crença espiritual no futebol, não se pode deixar de falar das preces dos adeptos. Quando as promessas falham e os santos vão fazer milagres para outra freguesia, são os adeptos que estão sempre lá, a pedir a Deus que ajude a sua equipa a ganhar. São 90 minutos de fervorosa devoção ao Criador, pedindo golos e protecção para a sua baliza.
Às vezes até se cansam mais que os jogadores.
Claro que, neste momento, a nossa única prece enquanto adeptos de futebol é voltar a ver um jogo ao vivo antes de 2022. É tudo o que pedimos. Por isso amanhã vou entrar no trabalho com o pé direito, com uma santinha na mão, enquanto me benzo três vezes e falo com o Senhor de joelhos quase a chorar. Está na altura de fazer como os profissionais."
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