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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Jorge Jesus e a regra das 10000 horas de 'expertise'

"O sucesso agrega.
Por estes dias, Jesus reuniu consensos e admirações, recebeu o reconhecimento de Portugal, dos Portugueses e de uma enormidade de Brasileiros (adeptos da sua equipa e não só), ao conseguir, em pouco mais de 6 meses, elevar os níveis de desempenho da sua equipa para patamares há muito não observados.
Da forte contestação inicialmente manifesta, num país onde ser treinador e estrangeiro não revela ser a “combinação” mais apetecível, Jesus conseguiu calar as vozes da crítica e obter inclusive pedidos de desculpa públicos, por parte de algumas figuras de vincada notoriedade.
Criticado por muitos acerca da sua forma de estar e ser, acerca da sua impetuosidade e entrega desmedidas, o reconhecimento da sua capacidade em optimizar atletas, tornando-os activos valiosos para os clubes, de alguma forma, não é algo de novo – este é, aliás, o principal denominador comum que encontramos no discurso dos atletas que com ele “nasceram” (ou “renasceram”) e que a ele dedicam a sua gratidão.
Fê-lo agora com uma equipa inteira – e num brevíssimo espaço de tempo – e, isto sim, é “novo”. 
Naturalmente que o sucesso não se pode (nem deve) explicar exclusivamente pela vontade de um indivíduo, afinal ele será sempre produto das acções individuais e das suas circunstâncias.
O sucesso alcançado no Flamengo resultará necessariamente da conjectura de uma equipa e de um clube, da visão de alguém que, dadas as dinâmicas internas que se encontravam instituídas, soube identificar um dado perfil de treinador que poderia catapultar a expressão de um futebol mais incisivo e eficiente.
Mas resulta, também, de um homem que, em boa verdade, se preparou para o sucesso.

As 10000 Horas de 'Expertise'
Adoptada por personalidades tão distintas como Bill Gates, Elon Musk, Warren Buffett e Mark Zuckerberg, a “regra das dez mil horas” emerge de um estudo de Gladwell (traduzido no seu livro “Outliers. The story of success”, acerca do desempenho dos “fora de série”), onde o autor defende que o desempenho de excelência dos “fora de série” se encontra justificado pelo número de horas de prática que coleccionam e que, na realidade, podem transformar qualquer indivíduo num top performer, a saber: 10.000 horas.
Em boa verdade, estejamos a falar de treinadores, atletas ou outros “fora de série”, se observados em pormenor, a sua quase “inumana” capacidade em desenvolver esforço e trabalho, com elevados níveis de resistência à frustração e por um período indeterminado de tempo, acaba por destacá-los dos demais.
Jesus frequentemente assinala isso no seu discurso quando refere que não teria aceite o convite sem ter estudado muito bem a situação.
O que, de uma forma geral, as pessoas não adivinham é que este “estudar muito bem” implica, desde logo, horas sem fim de análise de todo o plantel, clube e realidade organizacional/cultural, bem como a produção antecipada de um conjunto de critérios de sucesso e/ou soluções que garantam o nível de sucesso desejado (que não precisa, necessariamente, ser o mesmo que o publico em geral imagina) – tudo isto, mesmo antes de firmar qualquer contrato.
Contudo, como em muitas outras áreas, o discurso do sucesso resultante de um número infindável de horas de trabalho não é, como sempre, minimamente “sedutor” para ser valorizado pelos “media” ou retido pelos adeptos e sociedade em geral.

“Se Não Consegue Explicar Algo de Forma Simples, É Porque Não o Entende Suficientemente Bem"-  - Albert Einstein
A fórmula de sucesso de Jesus passará, certamente, por um grande conjunto de variáveis - entre muitas que poderíamos inventariar, o saber-se rodear pela equipa técnica “certa” onde, para além do conhecimento científico agregado, denota o reconhecimento claro dos “perfis de personalidade” que pretende blindar na sua equipa de confiança – de onde vale a pena destacar ainda:
saber traduzir o conhecimento em acções concretas.
Dizem-nos os estudos científicos que os atletas de elevada performance evidenciam, quase sempre, igualmente elevados níveis de coachability – entenda-se, uma elevada capacidade em traduzir os feedbacks em acções concretas.
Podemos, assim, estar perante um (não muito comum) fenómeno onde, a uma equipa com elevados níveis de coachability se juntou um treinador com uma enorme capacidade em dar feedbacks precisos, assentes em soluções concretas, resultantes de uma análise minuciosa do desempenho da equipa e dos adversários, facilmente operacionalizadas através das acções dos atletas.
A esta capacidade única de tornar o complexo em algo simples, temperado com uma enorme crença na capacidade própria em optimizar pessoas e processos, os atletas reconhecem Liderança."

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