"“200.000 Milhões podem ir pelo Ralo” – era o título da primeira página, do maior jornal desportivo do mundo, que o Detective Colombo estava a ler. O F.C. os Galácticos tinham protagonizado a maior transferência de todos os tempos, ao pagar 200.000 Milhões, por Peter Taylor, o jovem de 22 anos, poucos meses antes. Peter era um jogador com uma estrutura física fantástica para jogar e uma técnica ímpar, para não falar de uma persistência notável. Oriundo de uma família humilde, tinha vivido uma infância dura, com o Pai a perder o negócio, a separação dos Pais, os seus 3 irmãos e tinha encontrado no Futebol uma “tábua de salvação”. Por isso, possuía o desejo inabalável de chegar ao topo e, com isso, proporcionar uma vida melhor, à sua família e a si.
Cedo deixou a casa dos pais, para integrar uma Academia de Futebol e testemunhou várias situações marcantes. O elogio aos que marcavam golos e o ignorar ou a critica aos que “ficavam em branco”, levaram-no a acreditar que o seu valor resultava do que conseguia. Por isso, conseguir ganhar significava ter valor e perder que não se tinha valor. A ideia de que “muitos desejam, mas poucos alcançam” acompanhada das muitas desistências a que assistiu, no seu percurso de formação, reforçavam a crença de que “persistir é vencer e desistir é perder”.
Os frequentes comentários a ele e aos seus colegas, na Academia, que eram baixos ou não tinham a velocidade necessária, a força mental exigida, (…), acabou por “ajudar” outros tantos a desistirem dos seus “sonhos”, levou-o a reagir impulsivamente a todas as críticas.
O porte físico, a sua apuradíssima técnica e a sua persistência, pareciam ter feito dele o jogador perfeito e levou o F.C. os Galácticos a investir 200.000 Milhões, na sua transferência, mas pareciam não estar a dar certo. Todos estavam insatisfeitos, ele inclusive, mas também os colegas de equipa, o treinador, a direcção, os adeptos e até a imprensa. Necessitava de se adaptar a uma nova cidade, a um novo clube, a uma nova equipa, a um novo sistema de jogo, mas a sua teimosia, em persistir com a repetição do que o tinha ajudado a chegar ali, mas que agora não estava a produzir os mesmos resultados, estava a comprometer tudo. Corria-se o risco da sua transferência se tornar no maior “flop” da história do Futebol. Tudo isto era do domínio público. A situação estava insustentável.
Nisto, tocou o telemóvel. No visor, apareceu o nome do famoso Treinador Brad Wooden e o Detective Colombo atendeu e disse – “sim, como está Treinador Wooden?”. “Olá viva Detective Colombo. Espero que esteja tudo bem consigo?” – devolveu o Treinador Wooden. “Sim, está! Em que posso ajudar?” – disse o Detective Colombo. “Detective” – começou por dizer o Treinador Wooden – “estou com uma situação difícil, que está a comprometer a melhoria da equipa e, depois da nossa última conversa, pensei em falar consigo. Está disponível?”. “Com certeza” – respondeu o Detective Colombo. Umas horas mais tarde, já no gabinete do Treinador Wooden, o Detective Colombo perguntou – “o que se passa Treinador Wooden?”. “Estou com uma situação em mãos muito desafiante” – começou o Treinador Wooden e continuou – “o nosso “craque” tem um talento do tamanho do mundo, mas também tem coisas para melhorar. Contudo, dada a sua inflexibilidade e incapacidade para aprender, mudar e melhorar, não estou a conseguir que melhore e gostava de saber se há alguma coisa que esteja a fazer ou possa fazer, para ajudá-lo a melhorar.”
O Treinador Wooden referia-se à superestrela de Futebol, Peter Taylor. “Treinador Wooden gosta de jogadores que: se riem, quando perdem; não se esforçam ou desistem perante as dificuldades; ou estão dependentes dos outros para agirem?” – perguntou o Detective Colombo. “Não, prefiro jogadores que detestam perder, que persistem perante as dificuldades e que tomem a iniciativa, lutem pelas coisas” – respondeu o Treinador Wooden.
“O que faz quando os jogadores: estão a rir-se, no balneário, depois de uma derrota; perdem a bola e desistem da sua imediata recuperação; ou ainda, quando reagem ao adversário?” – perguntou o Detective Colombo e, de imediato, o Treinador Wooden respondeu – “dou-lhes um ralhete, daqueles que não se esquecem”. O Detective Colombo fez uma pequena pausa e colocou outra questão – “e o que faz quando os jogadores ganham, não dão nenhum lance por perdido, desafiam as probabilidades, mesmo estando a perder, ou quando fazem o que lhes pede, agindo proativamente?”. “Elogio-os, reconheço-os e recompenso-os” – respondeu o Treinador Wooden.
“Treinador Wooden é normal fazer o que faz, repreender o que não quer ver e elogiar o que deseja ver. Há muitos pais, professores, treinadores e gestores que fazem o mesmo, mas o que é que os jogadores estão realmente a aprender, nestes casos?” – perguntou o Detective Colombo. “A evitar a derrota a todo o custo, se querem estar satisfeitos, no final dos jogos; que é preciso manter o compromisso, persistir e “ripostar”, para virar os resultados desfavoráveis; e que lutem pelo que querem” – devolveu o Treinador Wooden. “Ou seja” – começava a resumir o Detective Colombo – “os jogadores acabam por acreditar que perder é mau, que quem desiste perde e que têm de lutar para dar a volta às situações desfavoráveis e, embora tudo isto possa ser considerado positivo, quer ir um pouco mais além, ao fundo da questão?”.
“A realidade é que o Peter Taylor representa um investimento de 200.000 Milhões, a forma como está a jogar não está a funcionar e necessitam, todos, de adaptação. Porém, há resistências a esta realidade, a de ter de mudar, que estão a comprometer tudo. Concorda Treinador Wooden?” – perguntou o Detective Colombo. “Em absoluto” – respondeu o Treinador Wooden. “Há três coisas que isoladamente podem estar a contribuir para isso, para a resistência à mudança, mas cujo efeito combinado é multiplicador” – estava a dizer o Detective Colombo, quando foi interrompido pelo Treinador Wooden que perguntou – “quais são?”.
“Primeiro, a aversão à perda. A situação familiar o Peter, que na sua infância, viu o Pai a perder o negócio e os pais a perderem a relação, assistiu aos colegas e a ele a serem criticados quando perdiam um jogo, quando perdiam um passe ou falhavam um penalty, levaram-no a associar a perda a situações desconfortáveis e, por isso, a evitar quaisquer perdas potenciais a todo o custo” – começou por dizer o Detective Colombo. “Percebo, a realidade de mudar exige que se perca: o conforto na cidade onde o Peter vivia; a cultura do Clube onde jogava; o ambiente da equipa anterior; e a posição e o sistema de jogo, e como, há uma aversão à perda aprendida. O Peter resiste à realidade de mudar, porque isso significa perder o que está habituado a fazer, consequentemente não se adapta e, por isso, não “vinga” – começou por dizer o Treinador Wooden e, a seguir, perguntou – “qual é a segunda situação?”.
Nisto, o telemóvel do Detective Colombo toca e ele diz - “Treinador Wooden, podemos fazer uma pequena pausa, para atender esta chamada?”. “Claro Detective Colombo” – respondeu o Treinador Wooden. Depois de desligar, o Detective Colombo disse que havia uma situação urgente, na esquadra, que tinha de se ausentar e perguntou se podiam continuar a conversa mais tarde. O Treinador Wooden estava curioso e ansioso por saber quais eram as outras duas situações que poderiam estar a comprometer a mudança, a adaptação do Peter Taylor."
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