"Não há nenhum vencedor feio, é uma regra. A vitória embeleza ou torna a beleza menos urgente.
Beleza e iniciais
1. A beleza dos atletas e do movimento físico sempre foi alvo do olhar de cineastas, pintores e outros artistas, além do interesse da publicidade, claro. Há exemplos evidentes de beleza como o do ex-futebolista DB ou da tenista MS, entre outros.
E diga-se, se há alguma coisa que caracteriza a beleza é ela não ser incógnita. Mas é simpático manter os nomes das pessoas belas assim, com iniciais. DB, MS, etc. Tenho a certeza de que sem dificuldade as iniciais se transformam para os leitores em nomes. Fica a proposta.
Os feios
2. Mas sim, disse Jonathan - um amigo cínico - podemos pensar na beleza incógnita, na beleza muito bem disfarçada. No limite, a fealdade é isso: uma beleza que está muito bem escondida. Tu não és feio, tens é uma beleza escondidissima, poderíamos dizer. Quanto mais feio é alguém mais bem escondido tem a sua beleza. Um possível elogio alternativo é, portanto, diante do rosto terrivelmente desinteressante, dizer: há que elogiar a forma profunda como foste, ao longo dos anos, capaz de esconder no rosto o mais breve e mínimo indício de beleza.
A fórmula
3. Seria interessante, aliás, ver a relação entre patrocínios, beleza e vitória em competições. Provavelmente, não há uma relação assim tão directa e objectiva, por exemplo, entre um atleta estar mais acima no ranking de ténis e os apoios que recebe de publicidade. Diríamos que, no referente a valor de patrocínios, a beleza individual provavelmente é equivalente a dois ou três triunfos no Grand Slam, pelo menos.
Poderíamos até - disse Jonathan, o amigo cínico - tentar encontrar uma fórmula que permitisse calcular valor previsível dos patrocínios, para cada atleta. Seria algo, provavelmente, deste tipo:
SD x B/2
Ou seja: Sucesso Desportivo vezes Beleza a dividir por dois.
Uma fórmula possível, disse Jonathan.
Outra fórmula
4. Jonathan, o amigo cínico, disse ainda o seguinte:
- Claro que a vitória transforma a fealdade em beleza inequívoca. Não há nenhum vencedor feio, é uma regra. A vitória embeleza ou torna a beleza menos urgente, digamos. E a derrota, por seu turno, torna a beleza ligeiramente menos atractiva.
- Também podemos pensar, acrescentou Jonathan, numa fórmula quem no desporto fizesse a equivalência, ainda mais detalhada, entre a beleza de uma pessoa bela e a beleza negativa de uma pessoa feia e os seus sucessos ou insucessos atléticos. Seria algo do tipo, por exemplo, e é só um exemplo:
PB + 5D = PF + 5V
Ou seja, disse Jonathan: uma Pessoa Bela (PB) com Cinco Derrotas (5D) seria tão bela como uma Pessoa Feia (PF) com Cinco Vitórias (5V). Um empate, portanto, diz Jonathan, o cínico.
A pergunta
5. A poesia serve para quê, perguntaram uma vez ao escritor Jorge Luís Borges. Ele respondeu com outra pergunta: para que serve a beleza do pôr do sol?
Adília Lopes
6. Ainda sobre o mesmo assunto. Olhemos para a escritora portuguesa Adília Lopes. Há uma história dela chamada a Sereia das pernas tortas, que, num tom de narrativa de princesa e príncipes, mas de cariz politicamente bem incorrecto, começa assim:
«Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia como era bonita.
Quando era bonita, as pessoas diziam-lhe:
- Eu amo-te.
E iam com ela para a cama e para a mesa.
Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe:
- Não gosto de ti.
E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça.
A mulher pediu a Deus:
- Faz-me bonita ou feia de uma vez por todas e para sempre.
Então Deus fê-la feia».
E a história continua depois neste extraordinário tom, politicamente incorrectíssimo. Quem estiver interessado leia, vale a pena."
Gonçalo M. Tavares, in A Bola
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