"Assiduidade e pontualidade no treino podem ajudar a renascer o compromisso e desejo competir das gerações vindouras
Na semana passada, José Mourinho ganhou espaço em tudo que são redes sociais com a seguinte declaração acerca da atitude dos jogadores de hoje em dia: "Eu tenho filhos da idade de jogadores e esta geração, de copinho de leite, que não aceita bem a crítica, não é uma coisa nova para nós, porque a temos em casa. Se o meu pai me mandasse comprar tabaco eu só perguntava se podia ficar com o troco e se eu pedir ao meu filho para me passar um copo de água ele pergunta-me porquê. São gerações. Mas tem de haver noção das hierarquias, de quem é quem".
Quem se atreve a discordar de uma verdade tão absoluta como esta? O problema é que todos nós somos experts do diagnóstico e, muito raramente, avançamos para um plano de acção e de concretização de práticas que façam alterar comportamentos. Mais, nós acomodamo-nos muito a fatalismos desta natureza pois alimentam o nosso rol de atribuições causais externas e consequentemente servem de desculpa para tudo, mesmo para as nossas insuficiências enquanto treinadores.
A primeira questão de fundo que se pode colocar é a seguinte: se hoje em dia os jovens são diferentes, porquê ensinar e treinar como antes? Porquê esperarmos que apresentem o comportamento e os resultados idênticos aos das gerações anteriores? Mesmo que sujeitos ao mesmo tipo de métodos de treino e processos de ensino-aprendizagem...
Independentemente de tudo, e sem querer ser um optimista irritante, acho que ainda vamos a tempo de resgatar o desporto federado ao de recreação e lazer. Acredito no renascer do compromisso e do desejo de competir nas gerações vindouras, mesmo sem o apoio de casa. E, infelizmente, também já não podemos contar com a escola para este desígnio, pois em termos de exigência é quase zero e em termos disciplinares idem.
Assim, se temos de começar por algum lado, então que seja pelo mais importante - a assiduidade ao treino. Os pais inscrevem as crianças num clube desportivo sem pensarem muito bem nas consequências dessa decisão. Não percebem, ou não lhes explicam, que fazer parte de uma equipa engloba um conjunto de responsabilidades e de compromissos. A prática regular de um desporto de competição tem sempre implicações na vida familiar, pois, a seguir às obrigações escolares, o treino deverá ser a prioridade seguinte. Aquelas férias na neve, aquela escapadinha no fim de semana ou aquele aniversário da tia vão ter de passar para terceiro plano.
O problema actual da generalidade dos clubes é o seguinte: como são os pais que financiam a actividade desportiva arrogam-se no direito da frequência intermitente dos seus filhos, às vezes sem se dignarem sequer a justificar as ausências deles. E nós treinadores, muitas vezes, somos cúmplices destes caprichos, pondo, por exemplo, a jogar no fim de semana uma miúda que não treinou durante a semana toda na busca de uma vitória que pouco ou nada vale na formação. E também convém esclarecer os pais que, no desporto de competição, eles pagam para os filhos treinarem, não para jogarem.
A derradeira desculpa dos "copinhos de leite" para faltar ao treino, quando não há uma doença ou lesão, é o faltar porque têm de estudar para o teste. Não será mais eficaz retirar ao tempo de utilização do telemóvel, computador e consola de jogos do que retirar ao tempo do treino? Mas nós treinadores vamos "papando" e desculpando tudo e depois queixamo-nos...
Depois há a pontualidade. O nosso treino devia ser como a porta de embarque no aeroporto. Chegou atrasado? Lamento, gate closed! E podíamos continuar por aqui fora...
Resumindo, as próximas gerações têm de treinar mais, sem desculpas. Têm de treinar melhor, o que implica naturalmente aceitar a crítica. Têm de perceber que o treinador é quem decide. Mas o treinador também tem um papel decisivo: tem de se assumir como o líder, tem de definir regras, cumpri-las e fazê-las cumprir, tem de aumentar a disciplina, a exigência e o rigor, sob pena de estar a apaparicar novos "copinhos de leite"."
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