"A análise que Fernando Santos fez ao jogo contra a Itália, em San Siro, deixou os jornalistas surpreendidos. Tão surpresos ficaram com a resposta muito técnica do seleccionador que foram depois pouco capazes de explorar, de esmiuçar, de aproveitar a mesma para um festival educacional de futebol muito diferente do tipo de debate que mais vemos por cá.
Estamos habituados a ouvir respostas evasivas; treinadores que têm receio de expor os seus pensamentos e a sua leitura do jogo, o que pediram aos jogadores para reagirem consoante essa mesma leitura; vemos treinadores que têm receio de mostrar a sua posição e o porquê das suas opções, tantas vezes, que quando alguém aparece a falar do jogo, e só do jogo, ficamos boquiabertos.
Aquilo que Fernando Santos fez, e tem feito quase sempre por cá, é o que deveria ser tema de debate. Porque só com esse tipo de debate, sobre o jogo, conseguiremos evoluir para o próximo nível.
Porquê Pizzi e não João Mário? Porquê William e Rúben Neves em 4-3-3? Como é que podemos tirar o melhor de Cancelo, e protegê-lo do erro? Como é que escondemos as dificuldades defensivas de Raphaël Guerreiro? Porquê 4-3-3? Porque teremos entrado mal? Qual era a estratégia, sabendo-se que a nossa tem sido sempre centrada em Ronaldo? Fomos surpreendidos pela Itália? O que mudou ao intervalo? Porquê Bernardo no corredor central na segunda parte? Por que não Bernardo no corredor central logo de início? Temos algum plano para uma melhor e mais rápida integração de jogadores diferentes como João Félix?
Com este tipo de debate os próprios treinadores terão que estar mais preparados, uma vez que a exigência será superior.
As questões são muitas, e podem daí derivar para muitas outras que nos permitam discutir o mais importante: o jogo. Tornar públicos, generalizados, os debates sobre o como, o com quem, o contra quem, e o porquê; no lugar dos habituais lugares comuns do nosso futebol onde a atitude (falta dela) desce de divisão porque perde 60 dos 34 jogos que disputa no campeonato.
Por isso precisamos do nosso seleccionador no nosso futebol. De homens com coragem suficiente para se deixarem julgar pelas suas ideias, pela força das mesmas, sem discursos demagogos e cheios de alegorias sobre coisas que nada têm a ver com o jogo.
Podemos discordar da leitura e das opiniões do nosso seleccionador ou achar que o seu plano de acção não foi o melhor para a leitura que fez; podemos achar que o nosso jogo não é o melhor para os nossos executantes; podemos não entender as opções que faz para o sistema de jogo e as escolhas para o onze inicial; podemos sentir que ter uma estratégia centrada em Ronaldo não é a melhor solução, ou até achar que o seleccionador não é o homem certo para o cargo.
Mas, nunca poderemos dizer que não queremos Fernando Santos no futebol português. Queremos, e queremos mais treinadores desta estirpe. E para quem tem a possibilidade de questionar o seleccionador, que o façam com o sentido de responsabilidade de melhorar o futebol, de permitir um debate cheio de conteúdo que nos torne mais competentes no entendimento do jogo e das suas dinâmicas; com a premissa de dar mais e melhor a quem ouve e a quem lê."
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