"Foram 3 pontos. Foram aqueles três pontos que faltavam. Faltavam ao treinador na sua carreira. Faltavam aos jogadores na sua competência. Faltavam aos adeptos na sua auto-estima. Faltavam à “estrutura” no seu diagnóstico presente e futuro. Um clube empresa, como nos habituámos a ver o Benfica, busca, incessantemente, a racionalidade como parâmetro de controlo do clubismo. É no conforto dos números e objectivos de gestão que encontra o conforto das decisões com critério, alinhadas com as boas práticas, subordinadas à estratégia. Mas tudo isto sucumbe em segundos de futebol. Quando o dispensável Seferovic chega uns milésimos de segundo antes à bola para a rematar para a baliza, com o seu “não pé”, o direito, batendo o presunçoso e provocador Casillas, estamos para lá da gestão desportiva, entramos na dimensão do misticismo do Clube. Em sonhos imaginariam esta e a imagem que se seguiu: um plantel em forma de bola humana criando uma avalanche de entusiasmo, projectando para o espaço 55.000 adeptos descrentes, resgatados por mal amados (Vitória, Almeida, Lema, Pizzi, Seferovic)… É este activo intangível, a exigência de identidade do Benfica, duvidosamente escriturável, que sacia a sanha de superação e vitória que o Benfica tem. Esta carga dramática de nos fazer regressar ao inferno das piores recordações e sair triunfantes. Contra tudo e contra todos.
Sobre esses mesmos que nos defrontam com armas desiguais e reclamam o cinismo pelo altruísmo, a corrupção pela virtude, o desporto pelo crime impune, o mais hediondo. Hoje não foram 3 pontos. Foi a prova que faltava. Que é possível ganhar, com crença, a uma aliança a que chamam futebol português. Sim, hoje perdeu a Liga Portugal e a FPF, perderam todos os que pela sua acção e omissão, com especial destaque para os árbitros (essa aberta desilusão), permitem uma competição desigual em benefício de um clube que a quase todos intimida. Hoje, esse futebol que não quis que o Benfica terminasse com onze jogadores, perdeu; mesmo quando fez tudo para que o Benfica não ganhasse, organizando, com apitos, o jogo ofensivo do adversário nos minutos finais. No seu zelo constante parece que adivinhavam e bem tentaram interditar o reduto, o último, que os afronta. Caíram perante uma Luz de brilho e recurso inconformado.
E agora? O que fazer com estes 3 pontos? Basta multiplicar. Invocar esta vitória nas ruas, nos trabalhos, de Norte a Sul, nos tribunais, nas polícias, nas instituições administrativas, nas corroídas instituições desportivas. E, claro, sempre que voltarmos ao campo de jogo para olhar os adversários nos olhos, com orgulho, e dizer: estamos aqui para um jogo limpo porque temos a coragem de defrontar e vencer o futebol português e o seu clube. Só o Benfica o consegue fazer e é isso que tem de ser repetido à exaustão. O Benfica fá-lo para honrar a sua história, a sua vocação e, também, para substituir o futebol português pelo futebol. Estes 3 pontos são, também, três torpedos na carcaça de um inimigo da paz e dos bons costumes que, jocosamente, apela à reconciliação. Essa representação, moralmente nauseabunda, é mais apropriada para um palco de varão. Por fim, o mais importante para mim, estes 3 pontos demonstram que não há campanha de marketing organizacional que substitua a autenticidade de uma vitória justa que se busca sem hesitações. Uma vitória à Benfica. É essa força que diferencia uma tarde de Outubro de uma tarde de Abril. E é a força moral desta vitória que pode abrir o espaço de outras vitórias nos novos campeonatos do futebol português (o criminal, o cível, o administrativo). Esta vitória é uma denúncia contra o tratamento que certa comunicação social, de tendência, concede ao Benfica. O seu desrespeito ficará amarrado ao trompete final que elegerão como tema. De fora ficará o futebol português, que essa comunicação social louva.
Ao clube empresa formulo um último desejo: reavaliem contabilisticamente a ligação emocional dos benfiquistas ao Benfica e o impacto da exploração desse recurso inesgotável na valorização global dos outros activos. Em termos contabilísticos pode ser uma operação impossível, mas para o Benfica não há impossíveis."
Brutal texto. É isto que eu e muitos milhares de Benfiquistas sentem neste momento.
ResponderEliminarMuito bem escrito.
Só adicionava uma referência ao nosso presidente. A Vitória de domingo também resulta da boa decisão de não vender o Rúben Dias.
CARREGA BENFICA TRINTA E SETE!