"Não foi para o FC Porto, fez história nos 12-2 ao FC Porto; Prémio de campeão no Benfica nem para gabardina dava
1. Era de Ramalde, lançara-se no futebol através do Boavista - e ao aperceber-se de que Espírito Santo continuava considerado «inapto por doença» (e que Francisco Rodrigues decidira regressar a Setúbal) - Francisco Retorta atirou-se, em afã, à procura de novo avançado centro. 'Necas Maneta', o olheiro que já pusera Francisco Ferreira no Benfica - num ápice despachou mensagem para Lisboa: «Não há melhor do que rapaz que anda a fazer golos a eito no Académico do Porto». (Sim, era ele...)
2. Pela «carta de desobrigação», o Benfica ofereceu 25 contas - e a ele, só para assinar contrato, mais 10 contos (que seriam, hoje, cerca de 5850 euros). Ao saber do negócio a culminar-se, o FC Porto tentou evitá-lo, acenando-lhe com o dobro daquilo que o Benfica lhe prometera (e ao Académico do Porto também) - mas a sua resposta foi, incontornável: «Agora é tarde, já dei a minha palavra, está dada, é de honra, há ser sempre essa minha palavra!»
3. O FC Porto não tardou a cruzar-se com o seu fulgor, com o modo como ele rasgou, fulgurante, a história - marcando-lhe 4 golos na tarde em que o Benfica lhe ganhou por 12-2. (Teve, porém, outros fogachos: os seis golos nos 13-1 à Sanjoanense - e o golo ao Bordéus, o que valeu a Taça Latina)
4. Não, esses 4 golos nos 12-2 ao FC Porto não os marcou a Béla Andrasik que, semanas antes, desaparecera do hotel onde vivia sem deixar rasto - de lá fugira por medo de ser preso pela PVDE (que era como ainda se chamava a PIDE) por o descobrirem espião contra os nazis (e a Gestapo ter feito queixa dele a Salazar) - marcou-os a Luís Mota que os portistas tiveram de ir buscar, em correria, ao Salgueiros.
5. Nos 12-2 ao FC Porto, ele fez 4, dois golos fizeram Manuel da Costa, Teixeira e Valadas - que a contou: «Ao intervalo havia 4-0 e o marcador não teria subido como subiu se não fosse exigência do Albino que nos disse: 'Chegou a hora do Benfica vingar a 0-8 de 1933, vamos pô-los a pagar com juros a maior derrota que o Benfica sofreu com o FC Porto!' No desejo desse vingança, jogámos cada minuto como se a cada minuto houvesse um campeonato para ganhar».
6. Nessa época dos 4 golos nos 12-2 (a da estreia no Benfica) - 24 fez nos 16 jogos do campeonato (e foi o seu Melhor Marcador). Sim, campeão foi o Benfica, de prémio pelo título recebeu (tal como os demais companheiros) 500 escudos. (500 escudos não chegavam agora sequer a 300 euros - e, por essa altura, também não chegavam para comprar em saldos a gabardina de lã que os Armazéns do Chiado anunciavam como «grande atracção para o inverno»: lançara-se a 1100 escudos andava pelos 850)
7. Campeão 1942/1943, campeão voltou a ser em 1944/1945 - na época em que a linha avançada do Benfica, formada por ele, por Espírito Santo, Arsénio, Teixeira e Rogério, ganhou cognome de 'Os Cinco Diabos Vermelhos'. (A seguinte abriu em tempestade sobretudo pelo fecho do Campeonato de Lisboa em quarto, derrotado por 1-4, no Lumiar-A, pela CUF - no jogo em que benfiquistas se queixarem de terem sido atingidos por bagos de chumbo disparados durante torneio de tiro que decorria ao lado do campo!)
8. 1945 corria para o fim - esse jogo co a CUF não o fez, Félix Bermudes, o presidente do Benfica, lamentou-se: «Temos quatro jogadores em rebeldia e cinco fora de Lisboa» - e ele era um dos quatro em «rebeldia», Teixeira deixara de o ser. (Vicente de Melo, que trouxera o Teixeira da Horta, não admitira que Janos Biri lhe desse bofetada em público e como o Benfica ainda o deixara «sem dinheiro para a comida e o quarto» com argumento de que «não sabia assinar recibos», pusera-o a negociar com o SC Braga)
9. Sabendo que o SC Braga oferecera 1500 escudos a Teixeira - também ele exigiu o mesmo em ordenado (e, por isso, Bermudes o dizia em «rebeldia»). Acabaram ambos por ficar no Benfica a 1000 escudos ao mês - e mulher que, «descarada», se apanhasse na praia sem fato de banho com «medidas legais» podia ser multada em 5000 escudos (certo seria se fosse biquini...)
10. O seu terceiro campeonato foi o 1949/1950 (e ele voltou a ser o seu Melhor Marcador). 6 Taças venceu (a última, a de 1952-1953 no ano do adeus) - e dele disse Pipi: «Era notável: mesmo pequenino, ganhava bolas de cabeça a torres como o Feliciano...»
António Simões, in A Bola
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