"Um dos melhores treinadores da história do futebol! É esse o carimbo que Mourinho vai carregar até ao final da sua carreira (que ainda está bastante longe), independentemente dos acontecimentos futuros.
Desde que chegou, sempre foi uma personagem que não deixou ninguém indiferente – cativava ou criava repulsa – por força da forma como apresentava as suas convicções, e da segurança com que as proferia. Ele criou uma personagem prepotente que lhe permitiu influenciar as equipas de forma positiva, mostrando-lhes que, juntos, poderiam alcançar grandes feitos.
Tinha uma confiança inabalável nas suas ideias e a equipa em campo era o reflexo inquebrável disso mesmo. Era arrogante, porque pensava que as ideias que tinha eram as melhores e, por isso, desenvolvia todo o jogo da equipa e moldava cada jogador para responder às exigências do seu modelo de jogo.
Para muitos, como eu, inspirador. Fez com que um miúdo que ainda jogava à bola sonhasse chegar mais alto como treinador do que como jogador, pela coerência entre o que dizia, o que fazia e o que a equipa jogava.
A dita arrogância era um dos maiores valores das equipas de Mourinho! Era de um valor inestimável a autoestima, a confiança nos seus processos de jogo, a solidariedade e a conexão com o treinador que os jogadores mostravam. O desejo e a vontade de conquistar o mundo, dominar o jogo, ou, nas próprias palavras de Mourinho, dar ao adversário “massacres que nem respiram”, eram o selo que diferenciava as suas equipas de todas as outras.
Era o que o diferenciava do resto. Havia uma congruência enorme em tudo o que fazia e as suas equipas demonstravam-no de forma inequívoca e arrogante. Não há uma equipa na história que tenha ganho muito, e consecutivamente, sem essa arrogância, sem esse sentimento de superioridade. Havia equipas com individualidades incríveis que ficaram para trás no somatório dos títulos ao longo dos anos e aí os títulos apareciam como consequência de uma ideologia diferente. Resultavam de uma forma “Grande” de pensar e de viver o jogo. Não bastava chegar ao pódio; Mourinho desafiava o Olimpo.
No Inter de Milão, onde ganhou, e ganhou muito no seu segundo ano, ficou convencido que tinha lá chegado.
Despiu-se das convicções com que tinha chegado até ali e dizia ter encontrado um grupo de jogadores incapazes de executar a sua ideologia. Mudou! Mudou e ganhou como nunca antes na sua carreira, e essa conquista levou-o à humildade.
Hoje, Mourinho diz ser mais humilde, por ser mais flexível nas suas ideias e por não trabalhar especificamente para uma forma de jogar. Molda-se aos jogadores para que eles se moldem também ao adversário. Não é fundamentalista de um estilo e a humildade de que agora se gaba levou-o a uma mudança drástica de registo.
“Hoje”, junta-se a um número enorme de treinadores humildes cujas conquistas não marcam, não cativam e causam indiferença. Não se distingue dos demais e, por isso, apenas esporadicamente vai vencendo.
Num passado recente, se alguém perguntasse quem era José Mourinho, todos conseguiriam responder com um número de características que faziam sentido para ele, e que eram devidamente visíveis nas suas equipas.
No presente, é tanta a confusão com que ele nos brinda (desde os jogos onde diz querer assumir a bola, jogar entre linhas e pressionar alto, aos jogos onde quer é despachar a bola, esperar perto da área e jogar para não sofrer golos; aos jogos onde quer que os seus jogadores joguem com marcações individuais; aos jogos onde prefere que se comportem de forma zonal; até aos jogos onde junta as referências todas, deixando aos jogadores a interpretação de cada momento) que não sei bem caracterizar Mourinho.
Diz que se tornou mais estratega e que joga mais em função do adversário. Pois bem, é essa falta de arrogância, é o facto de se submeter à vontade do adversário que o torna, agora, igual aos iguais.
“Mostra-me como joga que eu digo-te como treinas”. A frase é de Mourinho e é bastante elucidativa da mudança. Olhando para o jogo do Manchester United, Mourinho não seria capaz de perceber “como é que a equipa treina” e para que treina. A humildade levou as regularidades e trouxe uma confusão tal ao nível dos comportamentos que os jogadores não sabem o que fazer, como fazer, quando fazer.
É através do jogo que se percebe que os jogadores não estão convictos do que têm que fazer, que não são verdadeiramente uma equipa. É dos comportamentos tão díspares e desligados que demonstram em campo que se entende que a equipa não treina regularmente em torno de uma ideia sua. Ou melhor, que a equipa treina diariamente em torno da ideia do próximo adversário. E isso, por mais anos que passem, é uma forma pouco eficiente para transformar um conjunto de jogadores numa equipa, porque não lhes é dado nada que seja exclusivamente deles. Daí a desconexão, a disparidade e a quantidade de informação incongruente que (a humildade) transmite nas conferências de imprensa.
Johan Cruyff disse que havia dois grupos de treinadores: os corajosos e os outros. E, mesmo havendo algum exagero nas palavras do génio holandês, a verdade é que Mourinho já não pertence ao pequeno e restrito grupo dos corajosos."
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!