"Helenio Herrera nasceu em Buenos Aires e morreu em Veneza.
Foi criança e adolescente em Casablanca, mudou-se para Paris já adulto e viveu em Madrid, Barcelona, Sevilha, Málaga, Valladolid, Corunha, Roma, Rimini, Milão e Lisboa.
Era filho de espanhóis. Foi jogador e depois treinador de futebol. Sagrou-se, nesta condição, bicampeão europeu de clubes. Aquele Inter ficou para sempre seu.
Por outras palavras, enquanto o Real Madrid era de Di Stéfano e o Benfica de Eusébio, aquela equipa que derrotou madrilenos e lisboetas em finais consecutivas era o Inter de Herrera por tudo aquilo que Helenio lhe introduzira.
H.H. foi o segundo treinador argentino a vencer a Taça dos Campeões Europeus, depois de Luis Carniglia com o Real Madrid.
Aliás, são os únicos não-europeus a consegui-lo. O Brasil, por exemplo, deu muito ao futebol da Europa, mas nunca enviou um técnico que pudesse conquistar o continente.
Apesar da naturalidade, já conheci quem argumentasse que Herrera era menos argentino e mais francês, nacionalidade que adquiriu nos anos 30 e pela qual cumpriu serviço militar (ele sempre se considerou mundial).
A França, tal como o Brasil, deu muito em campo ao jogo no continente e (quase) nada ao futebol de clubes no banco. Por isso, durante décadas, Helenio Herrera tornou-se espécie de argumento quase único quando em discussões (tão patrióticas quanto absurdas) se enaltecem feitos de compatriotas como se fossem nossos.
Ao contrário do Inter de Herrera, este Real Madrid nunca será o Real Madrid de Zidane. Será de Ronaldo, Ramos, da BBC ou de Florentino. Não é preciso listar razões para se perceber porque é que é essa a percepção geral.
Este nunca será o Real Madrid de Zidane. E no entanto, é ele quem pode destronar o mítico Herrera no futebol gaulês, para quem segue essa via de pensamento, e tornar-se no ÚNICO treinador da História a vencer três Taças/Liga dos Campeões seguidas.
O futebol continua a ser paradoxal, ilógico e surpreendente. Contraria quem o segue e observa. Uma equipa que, em palavras simples - e repercutidas em muitos lados - «joga pouco» para um campeão europeu está à beira de fazer história. Um treinador que não é revolucionário como Mourinho, Guardiola ou Herrera, antes é um técnico de continuidade, está à beira de ser maior que todos os outros nessa coisa que pouco interessa: a de vencer títulos.
E os franceses, que tinham mais ou menos um treinador histórico na Champions pela dupla nacionalidade de Herrera, estão à beira de ganhar uma dessas discussões (tão patrióticas quanto absurdas), caso o Liverpool ceda perante o Real Madrid de Ronaldo, de Ramos, da BBC ou de Florentino. Mas nunca de Zidane.
«Muitos acham que sou omnipotente, porque dizem que conheço tudo. Isso não é verdade, orgulho-me de nunca ter conhecido o fracasso», Helenio Herrera."
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!