"Ao tornar pública a decisão de que “existem documentos relevantes”, o Ministério Público mantém uma leve suspeição no ar. Parece uma birra
Quando se pensava que o estranho caso dos convites pedidos pelo ministro das Finanças para assistir a um jogo do Benfica já estava devidamente arquivado e remetido para a secção das ridicularias, eis que o Ministério Público faz saber que vai conservar os “documentos relevantes” desse mesmo processo arquivado.
Afinal, há “documentos relevantes”. Assim sendo, desculpem a ignorância, porque se arquiva o processo?
Ao tornar pública esta decisão, o Ministério Público mantém uma leve suspeição no ar. Parece uma birra. Temos de arquivar, mas guardamos uns documentos, não vá aparecer mais qualquer coisa.
Este clima criado à volta da justiça, concretamente o acompanhamento em directo nas televisões de operações de investigação, como as buscas a residências ou a empresas, e mesmo detenções, está a atingir os domínios do surreal.
Gostava de esclarecer, entretanto, que não me incluo na campanha orquestrada por aqueles que querem que a actual procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, não seja reconduzida no seu cargo.
O que acho, sinceramente, é que a mediatização da justiça, da forma como está a ser conduzida, ao contrário de contribuir para a sua transparência, a transforma num lamentável espectáculo.
No limite, e para ser coerente, quem defende este espectáculo mediático deve admitir que os julgamentos passem a ser transmitidos em directo, com horários negociados com as televisões, como acontece, por exemplo, com os jogos de futebol.
No Império Romano, vigorava o panem et circenses, o pão e o circo que garantiam a quietude da plebe.
Transportado para hoje, a necessidade do pão mantém-se, ao mesmo tempo que o circo se encaixa na televisão. E o que há de melhor para entreter a plebe do que um bom julgamento?
Camus, genial escritor francês, disse que “se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo”.
Na verdade, o julgamento mediático é, à partida, uma condenação, sem direito de defesa.
Seja como for, citando o português Guerra Junqueiro, “a justiça não admite reticências”.
O cidadão comum, acredito eu, está cada vez mais farto deste circo.
De facto, “já não há bilhetes!”."
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