"Os canais de TV de clube sucederam aos jornais desses clubes e deles herdaram o sectarismo e a disponibilidade dalguns para a sabujice.
Com o advento dos canais de televisão dos clubes, surgiram as armas de destruição em massa do que restava de honradez e credibilidade da orgânica do futebol em Portugal.
Vocacionados para impedir o contraditório, anular as bases mais essenciais que colocam os media como um pilar decisivo às democracias avançadas em todo o mundo e ainda criando um palco permanente para aventuras populistas e cultos de personalidade, os canais de televisão dos clubes sucederam, com restrito sucesso, à grotesca intransigência que já se verificava na maioria dos jornais de clube, sempre marcados por uma filosofia editorial baseada no sectarismo e, tal como hoje, na disponibilidade para a sabujice dos habituais vencidos da vida.
Hoje, os canais têm outro impacto, mesmo que virados para plateias resumidas, pouco dispostas à crítica e à razão, tomando sempre por bom e verdadeiro não tudo o que poderá ser bom e verdadeiro, mas o que gostariam que fosse.
A linguagem de alguns programas televisivos de informação geral e que tratam, cada vez com mais frequência, da discussão do futebol em função da obsessão das audiências, veio rapidamente somar-se à linguagem brejeira e vulgar dos momentos televisivos mais sectários desses talibãs com assento fixo nos canais de clube.
Daí a esta conhecida e reconhecida balbúrdia no oeste foi um pequeno e inocente pulo de criança. De qualquer forma, é importante assinalar uma diferença decisiva: mesmo quando usa a linguagem vulgar, o argumento primário e o mesmo pensamento cego dos piores programas dos canais de clube, as televisões generalistas não devendo propriamente orgulhar-se daquela pobre matéria editorial, pelo menos, têm a vantagem de criar situações de contraposição, de discussão plural, de visão diferenciada que é a única maneira de distinguirmos um programa de entretenimento televisivo de um programa de mera propaganda pessoal ou clubística.
No seu mais recente documento a criticar duramente as acções de intimidação que levaram corajosos anónimos a vandalizar o local de residência de um árbitro, o Conselho de Arbitragem fez uma análise perturbadora mas certa do momento e apontou responsabilidades a supostos responsáveis que do futebol apenas querem uma cadeira mediática no palco. Um documento importante que nos vem falar, com toda a propriedade no discurso do ódio usado, hoje, pelos clubes.
É, de facto, nesse ponto que estamos, em matéria de discussão nacional do futebol português: O ódio e o seu discurso!
Dois exemplos recentes e significativos, que por razões de higiene mental queremos poupar aos nossos leitores, mas que vale a pena referir resumidamente, porque muito significativos.
O primeiro registou-se num programa azul e branco no Porto Canal e que costuma ter como intérprete regular o actual director de comunicação do FC Porto. Com um conjunto de pontas soltas que terá suposto serem reais e conclusivas, sem qualquer ideia deontológica da necessidade de contraditório e esquecendo que o FC Porto, pelos vistos, só controla a correspondência dos e-mails oficiais do Benfica, mas não os privados, Francisco J. Marques fez, em relação ao jornal A Bola e a alguns dos seus jornalistas, um conjunto de acusações graves, injustas, provocatórias e, acima de tudo, despudoradamente falsas. Daí decorrerá outro caminho que facilmente o irá provar, mas aqui o que importa agora é perceber como esse discurso de ódio varre tudo o que apanha, confunde, denigre, dispersa acusações gratuitas, numa vulnerabilidade de factos que supõe terem existido, de acontecimentos que imagina terem sucedido para, no fundo, chegar ao destino que deseja. Ou seja: a cegueira é tal que parte de onde quer chegar e chega de onde já queria partir. É tão grotesco que se mata a si próprio de ridículo.
Para Francisco J. Marques, se por acaso eu lhe pedir uma esferográfica emprestada e com ela escrever um depoimento de Pinto da Costa, o ex-jornalista entende que de facto foi ele próprio quem escreveu o depoimento do seu chefe.
O segundo exemplo passa pela omnipresente figura de Bruno de Carvalho e do seu acólito Saraiva. São ambos e na devida escala, que o presidente do Sporting determinará, os cavaleiros andantes da nova saga de batalhar contra tudo e contra todas, mesmo que no todo estejam os nossos e aqueles que, como nós, não têm nem nunca tiveram nada a ver com essas guerras em que tanto gostam de se envolver. É, como diz Bruno de Carvalho, uma questão de estilo e não duvido que desse estilo não passe nem mude.
O caso, procurando falar sério por respeito ao Sporting, é o que respeita à credibilidade. Um presidente pode dizer mandou um treinador não pôr mais um dos seus jogadores enquanto ele não lhe dissesse o contrário e pode também dizer que é o responsável pelo William Carvalho ter tido uma carreira, achando ser uma questão de descartável pormenor o talento do próprio jogador. Ou seja: Tal como se provou em toda a História do futebol português um presidente de clube pode achar que pode dizer tudo porque é Deus, mas não é. Deus está e vai estar muito mais tempo no poder do que o presidente do Sporting ou qualquer presidente de clube. Por isso Deus é Deus e os presidentes de clubes são apenas e só passageiros em trânsito para o esquecimento.
Perceber isto não é apenas um exercício de louvável humildade, mas um exercício de louvável inteligência, com ou sem desenhos.
Do estilo do presidente do Sporting e do conteúdo das suas intervenções, apesar das hipotéticas ameaças e pressões que me são feitas, dos gostos e dos desgostos que lhe possa provocar, continuarei, por dever de ofício e não por particular felicidade ou qualquer interesse intelectual que, de facto, como já lhe disse em privado, em relação a ele não tenho nenhuma, a ser um observador atento e rigoroso, porque faço questão de continuar a ser um crítico justo e um analista que honra o compromisso com os seus leitores e o compromisso com a grandeza de carácter de A Bola que pode não ser maior, mas também não é menor do que a de qualquer clube de futebol em Portugal e no mundo."
Vítor Serpa, in A Bola
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