"Geniais as personagens de um e a autenticidade do outro
Apanhar conversas a meio pode criar situações embaraçosas. Ontem terá acontecido a mais gente ligar o rádio e ouvir um fórum sobre Bob Dylan, mudar de estação e estar a passar uma música dele. O pensamento torna-se fatalista e brejeiro: mais um que pendurou as botas sem festa de homenagem. A seguir fica-se mentalmente envergonhado porque o que está a acontecer é, mesmo e só, a festa de homenagem. Dylan ganhar o Prémio Nobel da Literatura é uma surpresa, mas ao longo do dia vai-se sabendo mais coisas. Quem percebe desses assuntos nunca se surpreende e explica: o nome já havia sido cogitado outras vezes para tal honraria.
Foi igualmente notícia o lançamento de mais uma autobiografia de Maradona. Por momentos, fazia sentido na cabeça a rebeldia misturada em letra de forma, as histórias é que não, excepção feita à genialidade de ambos.
Dylan tem uma obra multifacetada, um percurso incoerente e de negação, mas as palavras cantadas e escritas foram sempre guiadas pelo brilhantismo. Esse foi o escritor, o poeta a quem a Academia sueca atribuiu o Nobel. O cidadão que em 2004 plasmou numa biografia ser dono de armas e querer "pegar fogo" aos hippies não conta; contabilizam-se as personagens criadas ao longo da vida e os hinos cantados. Foi Dylan quem escreveu: "O mundo era absurdo... eu tinha poucas coisas em comum com uma geração que não conhecia e da qual se supunha que era um dos porta-vozes."
Do homem do pontapé na bola, com passado tortuoso e penitências várias, leu-se: "Quando morrer quero voltar a nascer e ser futebolista. E quero voltar a ser Diego Armando Maradona. Sou um jogador que deu alegrias às pessoas e isso chega-me e sobra." A nova biografia começa assim: "Fala-vos Diego Armando Maradona, o tipo que marcou dois golos à Inglaterra e um dos poucos argentinos que sabe quanto pesa a Taça de campeão do mundo..."
Um Nobel para Diego, que nunca quis deixar de ser Maradona."
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