"A contracrónica da vida de Totti não tem paixão, busca lucro, quer dinheiro. Amor? Na cama. Dedicação? Ao próprio. E à família, quando há. Francesco é um homem unânime. Os outros são oposto. Se Totti é um tirambaço, os outros são cafofa.
A bola tem os seus amantes. E estes amam Totti. Não pela piada que tem, pelos golos, ou pelas feições. Amam-no por significado. O deuz da Roma, sem gralha, é a arte do sonho e fantasia, é imaginação de se viver para sempre num só clube. Totti é romantismo. O dele e o nosso, amantes.
Os outros, como disse, são uma história contrária. Realismo por oposição ao racionalismo. Na literatura, no futebol. A razão por base.
É aqui que entra Tarantini.
A causa do médio do Rio Ave preferência o raciocínio.
«Acredito que a esmagadora maioria dos jogadores que fazem uma carreira ao mais alto nível por cá não consigam ter um pé-de-meia vitalício. E isso levanta um grande problema que tem que ver com a preparação dos profissionais de futebol para um pós-carreira com estabilidade e independência financeira. Além disso, há que sensibilizar esta nova geração desde cedo para as dificuldades desta profissão.»
Todos nós, amantes, queremos Totti. Queremos que o nosso capitão dure para sempre no nosso clube. Que um formando do Seixal, Alcochete ou Olival seja ele próprio uma jura de amor eterno. Quando o contrário sucede, a conta é paga em raiva. Insulto, fúria. Ódio. As traições clubísticas encerram todas as fatalidades do mundo da boca para fora.
Voltemos à razão. Essa coisa cruel. Um jogador que atraiçoe o clube – e aqui seja por um rival, seja por um clube de menor dimensão histórica, mas com mais dinheiro - merece um desdém eterno? Merece que o digam insensível, frio, e outras coisas piores?
A brutalidade da história de Paulo Morais sempre me fez pensar. E o que o Vítor Hugo Alvarenga escreveu depois também. «O futebol usa e deita fora.» É por isso que a opção racional tem de imperar.
E essa opção até pode ser como Totti. Ficar. Ficar para sempre. Desde que se tenham pesado os prós e os contras. Mesmo que seja um ato de egoísmo para com o romântico adepto.
A carreira é curta. Em Portugal, sobretudo, os salários dos futebolistas são baixos e a oferta de outro emprego uma raridade para qualquer profissão. Por isso, Tottis por cá é coisa difícil.
Cada caso é um caso, mas, no fundo, quando essas traições acontecem, os futebolistas podem estar apenas e só a fazer aquilo que Tarantini e Vítor Hugo Alvarenga lhes dizem: «Pensem na vida enquanto sonham com o futebol.»
E isso, perante a histórias dos Paulos Morais, nunca poderá ser criticável, por muito que amemos Totti."
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