"Bristol Club, um cabaret dos 'loucos anos vinte' na secretaria do Sport Lisboa e Benfica.
No início do século XX começaram a surgir em Lisboa os primeiros night clubs. Predicados dos grandes núcleos cosmopolitas, rompiam com a boémia popular 'vivida nas casa de fado e tabernas'. No topo sul da actual Rua das Portas de Santo Antão, juntamente com outros equipamentos de fazer - restaurantes, teatros e cinemas -, foram instalados alguns dos principais clubs. Entre eles, o Bristol Club.
Inaugurado em Março de 1918 com uma decoração tradicional fin-de-siécle, o Bristol viria a conquistar um lugar na história, anos depois, como 'o clube dos modernos'. Após ter sido remodelado pela arquitecto Carlos Ramos, em 1926, 'uma equipa de jovens artistas que pretendiam romper com a estética tradicional e académica' foi desafiada a criar obras de arte para a decoração interior, entre eles: Almada Negreiros, Eduardo Viana, Lino António, António Soares, Canto da Maya e Leopoldo de Almeida. Como, à época, o Museu de Arte Contemporânea era impermeável aos modernistas, espaços como o Bristol Club assumiam-se como museus alternativos, cujas salas eram tidas como 'verdadeiras exposições'. Actualmente, parte dessas obras pertence a instituições museológicas de renome como o Museu Nacional de Arte Contemporânea e a Fundação Calouste Gulbenkian/Colecção Moderna.
Mas 'o Bristol, a casa dos artistas, dos modernos, era também como todos os outros, um clube de jogo, de prostituição cara e de cocaína', um cabaret aberto até altas horas, onde se podia beber, comer, fumar e dançar ao som do jazz-band. Entre os seus habitués, encontravam-se artistas plásticos, escritores, jornalistas, artistas de teatro e 'gente influente política e financeiramente, aristocratas, novos-ricos, (...) papilons e prostitutas elegantes'.
Devido ao novo contexto político-social do país o Bristol encerrou em 1928. Pouco tempo depois, em Dezembro de 1933, o Sport Lisboa e Benfica instalou a sua secretaria nesse mesmo edifício.
Até 15 de Outubro, pode visitar o edifício e ficar a saber mais sobre o Bristol Club na exposição Um Sítio com História. No local ainda se encontram alguns vestígios do Bristol Clube. Para além da porta do n.º 9 da Rua do Jardim do Regedor, no interior pode ver, entre outros, o cimo da 'porta de entrada giratória', uma das portas que 'lembram pequenas portas interiores de navio', da autoria do arquitecto Carlos Ramos, e duas figuras femininas em baixo-relevo do escultor Leopoldo de Almeida."
Mafalda Esturrenho, in O Benfica
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