"Em 1970, o Benfica joga em Macau, no Japão e na Coreia do Sul. Nunca uma equipa portuguesa viajara para tão longe. Mas os céus do mundo eram cada vez mais os caminhos da águia.
Em 1970, o Japão recebia a Expo-70 e Portugal estava representado com um pavilhão em Osaka, inaugurado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros da época, Rui Patrício.
Osaka, terceira cidade japonesa em população a seguir a Tóquio e Yokohama. O Benfica também tem de estar presente. O Benfica é cada vez mais uma imagem de Portugal além fronteiras, uma marca firme de sucesso e brilhantismo. E Eusébio, sempre Eusébio, encantador de pessoas, o homem que fascina espectadores com a sua potência felina de uma vida que transborda dele mesmo e se propaga no redor. Facto inédito - eis que uma equipa portuguesa de Futebol se desloca ao extremo-oriente. O Futebol português está de luto pela morte do jovem Nené, prometedor jogador da Académica. No dia seguinte a comitiva 'encarnada' deixa Lisboa em direcção a Macau, primeira paragem desta nova deslocação 'encarnada', quase directamente de África, onde uma semana antes defrontara em Luanda e Lourenço Marques uma selecção de Luanda e o V. Setúbal, por duas vezes, para o mais distante de todos os orientes.
Dois jogos na velha Cidade do Santo Nome. Duas vitórias, como não podia deixar de ser. 4-1 à selecção de Macau; 7-0 à selecção de Hong Kong. O público gosta. Mesmo num território onde o futebol nunca se fixou como alegria do povo e se preferem as corridas de cavalos e de galgos.
Nos sopés dos montes
A 'águia' não pára de voar. Os céus do mundo são os seus caminhos.
Borges Coutinho comanda o grupo, o treinador é Jimmy Hagan, os jogadores são - José Henrique, Fonseca, Malta da Silva, Barros, Humberto Coelho, Zeca, Adolfo, Jaime Graça, Matine, Vítor Martins, Simões, Nené, Eusébio, Artur Jorge, Raúl Águas, Messias e Praia. Dois jogos em Macau para aquecer os motores, e quilómetros e mais quilómetros. Um jogo em Kobe, viagem de comboio para Tóquio, por entre as montanhas em cujos topos se espreita o branco da neve.
Kobe: um dos maiores portos do país de onde saiu a principal fonte de emigração para o Brasil. No sopé do Monte Rokko, o Benfica vence a Selecção principal do Japão por 3-0.
E a surpresa geral. A televisão japonesa transmite os jogos a cores! Uma sensação! O Benfica faz golos e mais golos e todos eles vão de casa em casa, a cores, para alegria de toda a gente. Depois é a partida para a Coreia do Sul, registando-se em Seul o único empate da digressão. Só à sua conta, Eusébio marca 13 golos. Um número que lhe dá sorte. E duro, o regresso, estende-se por escalas e mais escalas: Seul-Osaka- Tóquio-Hong Kong-Bangkok-Bombaim-Teerão-Roma-Lisboa.
Mais duas taças para a sala do clube: Taça Cidade de Kobe e Taça Pavilhão Portugal/Japão. O brilho extraordinário de ouro e de prata.
De cada vez que viajam, os jogadores do Benfica coleccionam carimbos nos passaportes, escalas infinitas em aeroportos e o respeito de um público que sabe a força desse nome vermelho.
Ao contrário do que escrevia Álvaro de Campos, não há de ser a vida de bordo a matá-los. Mas havia glórias a procurar num Oriente a Oriente do Oriente.
Era lá que estava o Benfica nesse Verão de 1970.
Nada de estranho para quem esteve em toda a parte..."
Afonso de Melo, in O Benfica
Gostaria muito de ver um programa na BTV onde se passassem esses jogos históricos.
ResponderEliminarAcho que deveria de ser um designio da direcção do clube comprar esses direitos e colocar uma tela a passar no museu ininterruptamente esses momentos marcantes.
A RTP exige balúrdios pelo arquivo!
ResponderEliminarÉ melhor estarem 'fechados' na cave!
Abraços