"O presidente do Porto é o recordista: exerce o cargo desde 1982. Mas existem outros casos já assinaláveis de perenidade. No Benfica, há presidente desde 2003, idem no Braga, no Setúbal desde 2009, no Rio Ave desde 2008, no Arouca desde 2006, no Marítimo desde 1997.
Depois há as recaídas: o presidente do Nacional foi-o de 1994 a 2011 e em 2014 regressou. O do Boavista de 1997 a 2007 e, em 2015, 'back in business'; e o do Tondela de 2003 a 2010, com retorno em 2012.
Há até um notável caso de versatilidade do actual presidente do Moreirense, que tendo-o sido de 1996 a 2004, nesse ano fez um parêntesis para ir presidir ao Guimarães até 2007, para depois voltar ao Moreirense, até ao presente.
Esta breve análise mostra quanto estes lugares são agora apetecidos, o que não espanta. A visibilidade e importância de ser presidente de um clube de futebol em Portugal é superior à de muitos políticos ou estrelas do 'show business'. Dá influência e poder, abre portas, muito para além da esfera dos clubes que dirigem.
Daí que haja quem faça disto vida ou ajuda para a vida que fazem. Acho que este paradigma é mau para o futebol e para os clubes. Para o futebol, porque subverte a escala de valores, assumindo os presidentes de clubes um papel de vedetismo e preponderância no fenómeno desportivo, que cabe a outros agentes, ou seja aos atletas e aos treinadores.
Para os clubes, porque estas prolongadas permanências acabam por desmobilizar as pessoas, desertificar o associativismo e criar mitos amiúde imerecidos - de salvadores da pátria e outros redentorismos, asfixiando a necessária renovação, única forma de assegurar a perenidade das colectividades.
Nos clubes, devia haver a sensatez de estabelecer limite de mandatos. Por muito que o futebol se tenha transformado num negócio, continuo a pensar que o dirigismo desportivo se deve basear na dedicação ao clube, na vontade de servir e retribuir a quem tanto nos dá. Será essa uma espécie em vias de extinção?"
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