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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Jesus e os anjinhos

"Jesus quis chatear e Vitória deixou-se chatear: em vez de jogar «à Benfica», com devia, continuou a jogar «à Guimarães», como mostrou. Encolheu-se e perdeu, vem nos livros.

Jorge Jesus precisava deste troféu, por ser mais um título que lhe engorda o currículo e por ter percebido que era muito importante que os jogadores leoninos o erguessem, como ergueram, no sentido de alimentar o seu infinito ego através de uma teia bem urdida e que, em síntese, sabendo que os ventos sopravam de feição, o elevou a uma categoria profissional jamais reclamada, espécie de treinador possuidor de estranhos e fantásticos poderes que lhe permitem, em simultâneo, treinar o actual clube (Sporting) e controlar o anterior (Benfica)... à distância.
Parece uma caricatura, mas não é. Se há casos em que o saber, a rotina e a experiência de um treinador influenciam o enredo e o resultado de um jogo, este foi um deles. Jesus sabia que a conjuntura lhe era favorável e esgrimiu-a com mestria, como fez no passado, umas vezes bem, outras mal. Pode não apreciar-se o estilo, mas desta vez não só funcionou em pleno como provocou um efeito devastador no vizinho da Segunda Circular. É um estilo que incomoda os adversários (lembram-se daquele gesto dirigido a Manuel Machado?), que não é ingénuo, nem sequer bem intencionado, mas que também não é injurioso, nem belisca a honorabilidade de quem quer que seja. É assim, sempre foi assim e só me espanta a aparente surpresa com que do outro lado se (não) reagiu ao folclore que animou o pré-jogo, com Jesus a deitar os foguetes, a recolher as canas e a proporcionar à família leonina uma festa como há muito não saboreava. O Sporting triunfou sem ponta de discussão e creio que ninguém ficaria escandalizado se o desfecho fosse mais desnivelado. A partir do jogo de apresentação, diante da Roma, só não viu quem não quis ver que estava ali a equipa-tipo com uma interpretação competitiva que, apesar de não ser uma fotocópia da filosofia de jogo desenvolvida no Benfica, revela, nos traços essenciais, aspectos comuns e suficientes para ajudarem a desenhar o perfil do novo leão. Em concreto, na final da Supertaça, Jesus desempenhou o seu papel com brilhantismo, sem culpa pelo bloqueio na estrutura de anjinhos que lhe coube agora defrontar (sublinhando que não meto os jogadores neste saco), a qual viu, ouviu e... virou a cara para o lado.
Afirmou Jesus que o Benfica teve medo e Vitória confirmou. Jesus sabe que este Benfica está mais fraco do que aquele que venceu o bicampeonato sob o seu comando e explorou esse fator com habilidade e cinismo, até. Interferiu no pensamento do treinador oponente por causa da história da paternidade das ideias. Jesus quis chatear e Vitória deixou-se chatear: em vez de jogar «à Benfica», como devia, continuou a jogar «à Guimarães», como mostrou. Encolheu-se e perdeu, é dos livros.
Observações finais:
1 - No Guimarães o caminho fazia-se caminhando, mas no Benfica faz-se ganhando. Rui Vitória deve adaptar imediatamente o discurso à nova realidade.
2 - O adjunto Arnaldo Teixeira deve obedecer ao recato que a sua posição aconselha e abster-se, com aqueles artefactos na cabeça como se tivesse acabado de chegar de Marte, de excessos que perturbem a autoridade do chefe. Além de o seu irrequietismo dar uma imagem de desassossego no banco de suplentes. No estádio pode não se notar, mas às câmaras não escapa nada. Raul José também utiliza essas aplicações, mas tem o cuidado de ser discreto.
3 - Chega! O incidente com Jonas deve ter feito ver a Jesus que, mesmo retendo agradáveis recordações dos seis anos que viveu no Benfica, é altura de erguer um biombo e, definitivamente, preocupar-se exclusivamente com os jogadores do Sporting. Deve ser ele a tomar a decisão, antes que mau resultado lhe bata à porta e alguém lho sugira ao ouvido...
4 - Rui Costa falou, acautelou as palavras e preocupou-se em destacar a grandeza da instituição. Declarou que o Benfica não está habituado a perder finais, acontece... Mas da mesma maneira que Jesus não se esqueceu de falar no golo mal anulado à sua equipa, será que o administrador benfiquista não podia ter expressado o seu desagrado por erro grosseiro do árbitro que ignorou uma grande penalidade sobre Gaitán? Os adeptos gostariam que o tivesse feito: anjinhos, mas não tanto!..."

Fernando Guerra, in A Bola

PS: O Fernando Guerra, tem as suas obsessões, goste-se ou não... discordo de muita coisa, a crónica de hoje, não é excepção (acho que existiram outras variáveis que ditaram a derrota na Supertaça...além daquela que ele destaca), mas concordo totalmente com o último ponto...!!!

6 comentários:

  1. Outra coisa que Fernando Guerra podia ter referido no último ponto era: "É curioso que tenha sido Rui Costa a falar na hora da derrota. Onde estaria, mais uma vez, Vieira?" Mas Fernando Guerra nunca morde no dono.

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    1. Rui Costa é administrador tem toda a legitimidade para falar. Outro que fica intranquilo quando não ouve a voz do dono.

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    2. Ninguém disse que o Rui Costa não tem legitimidade para falar. O problema é que, pelos vistos, só tem legitimidade para falar na hora da derrota, altura em que o Vieira está bem escondidinho.

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  2. Será que quase ninguém dos benfiquistas é capaz de verificar que o golo anulado ao Benfica .... FOI MAL ANULADO?

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  3. Será que quase ninguém dos benfiquistas é capaz de verificar que o golo anulado ao Benfica .... FOI MAL ANULADO?

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    1. O Lisandro está em fora-de-jogo, a questão é saber se ele tem interferência no lance.
      Na minha crónica, disse que foi mal anulado.
      Pois além de não tocar na bola, não é o Lisandro que atropela o Patrício, é o Silimani...

      Admito que é uma analise subjectiva, mas no golo mal anulado ao Sporting, o Ruiz também está em fora-de-jogo posicional, e quando a bola é cabeceada, ninguém sabe para qual jogador a bola vai...

      Mas...

      Abraços

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