"A FIFA vai financiar a limpeza e recuperação do túmulo de William McCrum, que, antes de morrer na miséria, viciado em jogo e campeão de penalties com copos de uísque irlandês e cerveja, foi dos percursores do fair-play e inventor da tão amada e odiada (depende do lado em que estamos) grande penalidade nos jogos do futebol.
Guarda-redes do modesto Milford FC - tão modesto que chegou a acabar um campeonato com zero pontos, 62 golos sofridos e 10 marcados em 14 jogos -, assistia da baliza a verdadeiros massacres das pernas dos adversários. E foi com a ideia de acabar com o martírio dos goleadores que propôs à federação irlandesa a criação da grande penalidade.
A Moção do irlandês - assim ficou conhecida - foi levada à FIFA e chegou a ser chumbada. De fora dos relvados teóricos não admitiam a possibilidade de um cavalheiro querer atingir propositadamente outro com um pontapé de modo a impedi-lo de marcar golo. Mais tarde, rendidos à evidência, os engravatados do jogo lá aprovaram por unanimidade a experiência que haveria de durar um ano. Ficou eterna, como todos sabemos.
É notável que o penalty tenha sido inventado por alguém que jamais viria a ser beneficiado pelo mesmo e também sintomático que nem mandava tenha começado por achar a ideia estapafúrdia, ridicularizando-a até, antes de vir a aceitá-la como boa.
Por estes dias, a FIFA decidiu acabar com a suspensão no jogo seguinte de futebolista que seja expulso por cometer grande penalidade. Fê-lo depois de ouvir vários treinadores dizerem que o triplo castigo (penalty, expulsão e suspensão) é pesado de mais para uma equipa. Não sei se a ideia é boa ou má, ninguém sabe se vai resultar ou não - o futebol tem sempre resistido às mudanças, por mais radicais que pareçam - mas saúde-se o facto de as opiniões de quem anda no campo serem agora ouvidas."
Nuno Perestrelo, in A Bola
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