"Na abertura de cada um dos 'Diários' de Miguel Torga estava a mesma frase de Amiel «chaque jour nous laissons une partir de nous-mêmes em chemin». Esta ideia de que na nossa caminhada a construção é feita do que se vai deixando implica que a história de cada homem seja a história do que ele diariamente deixa perdido no seu caminho. Acontece que o que fica perdido não pode ficar esquecido. Caso assim aconteça, o caminho do homem cumpre uma das prerrogativas para a existência do 'homem trágico': o esquecimento. Um caminho trágico feito por um homem trágico fatalmente conduzirá à tragédia.
Todo este introito surge a propósito das futuras eleições para a Liga. A comunicação social bombardeia-nos diariamente com a ideia de que os dirigentes do Benfica e do FCP estariam alinhados a na liderança de um novo projecto agregador para a Liga.
Recuso-me a acreditar nisto. Que os dirigentes do Benfica e do FCP e de todos os outros clubes queiram um consenso generalizado para que todos participem na edificação do Futebol português é legítimo e saudável. Que a vontade de um consenso implique uma aliança ou o que quer que seja de promiscuidade com dirigentes ligados aos casos de corrupção identificados nos processos 'Apito Dourado' e 'Apito Final' é algo que entra no campo do absurdo. Diz-nos a literatura que o esquecimento do passado é um dos absurdos que leva à repetição da tragédia.
Nas próximas eleições da Liga joga-se a questão dos direitos televisivos, joga-se o futuro do Futebol português com ou sem aqueles que o conspurcaram durante três décadas. Num passado bem recente, os dirigentes do Benfica construíram o seu caminho, dando uma enorme machadada nesse poder podre o bafiento. Esse momento de quebra do monopólio dos direitos de transmissão televisiva encheu-nos de orgulho. Foi um daqueles momentos da caminhada em que sentimos que faz sentido continuar nesta luta e, como tal, não pode (e acredito que não ficará) ficar perdido nem esquecido no caminho construído."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica
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