"A lógica do passo seguinte a tanto êxito. Fulcral: que novo plantel, estando à vista saída de meia equipa titular?...
HÁ um ano, quase todo o mundo benfiquista súbita e drasticamente exigia a cabeça de Jorge Jesus, esse falhado que, nas últimas 2 semanas da temporada, conseguira, num jacto, perder 3 finais...
Luís Filipe Vieira teve cabeça fria para priorizar que o Benfica chegara a todas essas finais . e o modo como as perdera - e teve a coragem de fazer exactamente o contrário do que lhe reclamavam: apresentou ao treinador contracto por mais 2 anos.
Jorge Jesus teve audácia para aceitar; decerto filha da firme convicção do que trabalhara bem e de que haveria de virar do avesso gigantescas fúrias contra si, até superiores às de Maomé perante toucinho.
Um ano decorrido, o Benfica de Jorge Jesus alcançou o que nenhum outro conseguira - conquistar tudo em Portugal - e bisou final da Liga Europa (perdendo-a, no desempate de grande penalidade, porque não pôde contar com 4 jogadores essenciais e porque a equipa de arbitragem não viu 2 penalties a sério e até no desempate (!) continuou muitíssimo vesga).
E agora? Dúvida durante algumas semanas - forte possibilidade de Jorge Jesus querer sair em glória - acaba de ser desfeita: será cumprido o contrato em vigor (mais uma época). Ressalvada, digo eu, a certeza de nunca certezas haver nestas matérias...
Evidente: Jorge Jesus hesitou. O peso de continuar após temporada brilhante é enorme. Tal como o aliciante de desafio além-fronteiras. Jorge Jesus possui capacidade técnica de primeiro plano em qualquer país. Mas ele próprio reconhecerá as suas limitações... linguísticas. Creio que, se falasse, ao menos razoavelmente, inglês ou francês, ou italiano - e se tivesse ganho uma das consecutivas finais europeias -, o nível de convites seria muito superior e... irresistível.
Jorge Jesus mantém-se no Benfica. Este nada arrisca; e até respira fundo. Os riscos, elevadíssimo!, são todos do treinador.
PORQUÊ elevadíssimos riscos para Jesus? Desde logo, o óbvio: diz a lógica que, após praticamente tudo se ganhar, o passo seguinte é alguma coisa, quiçá a mais importante, se perder.
Antes e depois dessa lógica, eis o fulcro do risco: que novo plantel vai o Benfica ter? Muito previsível: perda de qualidade. Sequela de grande temporada, com muitos jogadores subindo ao palco de irresistíveis apetites.
Rodrigo (devolvido ao nível que prometera 2 anos antes) e André Gomes (precisa de elevar rotações para ser excelente centrocampista) já não são do Benfica.
Saída de Garay é quase certeza. Ora este titularíssimo da selecção argentina tem sido, quando a mim - com licença de Luisão, do meio desorientado Mangala e de Rojo -, claramente o melhor defesa central no nosso futebol. Nesta última época, foi mesmo excepcional. Craveira mundial. A sua substituição será tremenda dor de cabeça.
Enzo Pérez e Gaitán: dificílimo segurá-los na Luz. Enzo tornou-se médio todo-o-terreno de mão cheia! (sentidíssima na equipa a sua ausência na final de Turim, de tal modo ele acelera, impõe, estabiliza alto ritmo ataque-defesa). Gaitán é o puto talento. Um pouco inconsistente, mas amiúde abre o livro e descobre espaços de ataque onde só ele os viu.
E Salvio ficará? A lesão que o afastou na primeira metade da época talvez agora ajude o Benfica a mantê-lo... (e ele é, para mim, o consistente extremo em Portugal).
Siqueira, o defesa-esquerdo pós-Coentrão que o Benfica demorou anos a encontrar... O Granada exige 7 ou 8 milhões; Siqueira pretende enorme subida salarial e parece ter candidatos que o satisfaçam.
Cardozo: foi-se mais de metade da cotação que tinha há um ano. Ou como o seu fraquíssimo rendimento na última época está mesmo a pedir adeus à Luz. Sem Rodrigo e Cardozo, e com Lima trintão, SOS por pontas de lança.
Saída de 4 ou 5 (se não mesmo 6) titulares é dificílimo, quase impossível, será substitui-los a idêntico nível. Sporting e FC Porto esfregam mãos na perspectiva de Benfica bem inferior ao último.
Jorge Jesus tem valorizado imenso ror de jogadores (não esquecer Di Maria, Coentrão, Javi garcia, ou, embora com menos necessidade, Witsel). Mas - estando à vista começar de novo... - que qualidade de matéria-prima vai ter? Aí está o seu risco... altíssimo."
Santos Neves, in A Bola
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