"1. Fernando Peyroteo foi uma das maiores figuras da história do futebol do Sporting e, por arrasto, do futebol português. Em 1957, quase dez anos depois de ter pendurado as botas, publicou a sua autobiografia, agora a bom tempo recuperada por João Nuno Coelho e Francisco Pinheiro nas Edições Afrontamento. Vale a pena!
2. Peyroteo não tinha qualquer problema em adjectivar-se de 'lagarto' (que hoje tanto tonto toma por insulto) e não teve nenhum pejo em deixar escrito, preto no branco, que na hora da sua festa de despedida - uma reforma antecipada que lhe permitiu manter-se limpo no mundo dos negócios no qual já estava envolvido - o Benfica o tratou com mais dignidade e carinho do que o seu próprio clube do coração e de sempre.
3. Peyroteo será para sempre um desportista a merecer o respeito de todos quantos gostam de futebol, seja lá qual a cor que vestem. É dele este naco de prosa:
4. 'Tão impressionado fiquei que ainda hoje me lembro da infracção que motivou o castigo máximo. Dentro da grande-área do Sporting, um avançado do Porto meteu a mão à bola, intencionalmente. No mesmo instante ouviu-se uma apitadela e Jurado agarrou a bola com ambas as mãos para a colocar no sítio onde a falta fora cometida. Nisto, ouviu-se o apito do árbitro - Santos Palha - ordenando a marcação de um 'penalty'! Dera-se o caso de o árbitro só ter visto a falta cometida pelo Jurado e só por ela interrompera o jogo! Julgo que alguém, fora do rectângulo, utilizar um apito igual ao do juiz da partida e dessa brincadeira resultou ao Sporting Clube de Portugal a perda de um campeonato!...'
5. Corria o ano de 1937. Os métodos podiam cariar, mas indecência era a mesma dos dias que correm."
Afonso de Melo, in O Benfica
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