"O campeonato começou da pior maneira possível, com uma derrota que calcou o sangue pisado das feridas não cicatrizadas do final da época passada. Dor em cima de dor, frustração a calcar frustração e montou-se imediatamente o auto de fé mediático em que, à vez, se pede a cabeça do treinador, do presidente, dos futebolistas do plantel, da “estrutura” e de quem mais estiver à mão de semear. Agora, é chegado o tempo do discurso do “eu bem disse” que alterna com o do “estava-se mesmo a ver”. Exige-se um sangue sacrificial para aplacar a ira. Percebo e partilho totalmente a preocupação perante a situação actual do nosso Benfica.
Não estar preocupado com o presente do Benfica seria de uma insensatez imensa. No entanto, esta preocupação não pode nem deve dar lugar ao discurso apocalíptico de que o futuro está hipotecado e de que a única solução é a política de terra queimada. Esta visão apocalíptica conduz apenas à desesperança, à desunião e à derrota. Enfrentar o problema com preocupação e pragmatismo é a única solução. Quem toma decisões deve tomá-las de acordo com as suas convicções (não teimosias) e, se assim for, deve estar à altura das decisões tomadas. Uma decisão tomada em consciência é uma decisão honesta e perante uma decisão honesta não há muito espaço para o arrependimento. Podemos e devemos corrigir o rumo, se assim o entendermos. Recordo Raul Brandão como o homem que, olhando retrospectivamente para os enganos e desenganos da sua existência, assumiu que repetiria o calvário da vida sem lhe alterar o itinerário. Uma liderança deve ter esta grandeza e lealdade: saber que o passado não se pode mudar e que o futuro depende das respostas que hoje lhe consigamos dar. Para que se encontre uma solução, importa que as lideranças tenham um pensamento preocupado, mas nunca apocalíptico."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica
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