"O Benfica foi uma das equipas mais brilhantes que passou pelo Troféu Ramon Carranza, o mais prestigiado de todos os 'veraniegos'. Duas taças gigantescas vieram para a Luz...
CONTINUEMOS no Verão. Continuemos em Espanha. Já trouxemos aqui a história das presenças do Benfica em três dos mais famosos 'veraniegos' espanhóis - o Teresa Herrera, na Corunha, o Columbino, em Huelva, e o Troféu Ibérico, em Badajoz. Em todos eles o Benfica fez furou com um futebol vistoso e objectivo, ou seja, o sonho de qualquer organizador de provas deste género.
Hoje falamos do Ramon Carranza, 'Lo Trofeo de los Trofeos', como lhe chamam os espanhóis.
Disputado em Cádiz, desde 1955, nas primeiras duas edições apenas entre dois clubes (o Atlético foi o clube português convidado para a primeira edição), depois entre quatro, no sistema de meias-finais e Final.
A primeira presença do Benfica data de 1963. Uma equipa extraordinária, com Eusébio no seu auge, acompanhado por José Augusto, Torres, Coluna e todos aqueles que sabemos e conhecemos.
Assim sendo, a vitória 'encarnada' nessa edição (a 9.ª) do Troféu Ramon Carranza foi quase natural. No primeiro jogo, os golos de Serafim(2) e Yaúca serviram para impor uma derrota ao Barcelona, por 3-2. No outro encontro, a Fiorentina eliminava o Valência pelo mesmo resultado e perfilava-se como adversário na Final. Mal sabiam os italianos o que estava para lhes acontecer...
Durante 90 minutos o encontro foi escaldante. Golos em sequência lógica do equilíbrio: 0-1 por Hamrin (31m); 1-1 por Torres (46m); 2-1 por Serafim (72m); 2-2 por Lojacono (75m); 2-3 por Hamrin (76m); 3-3 por Torres (82m).
O público de Cádiz estava encantado. E mais encantado ficou com a meia-hora extra do Benfica que marcou quatro golos sem resposta, esmagando por completo o seu adversário. Torres(2), Yaúca e Eusébio remataram a faena. O gigantesco troféu Ramon Carranza vinha para a Luz e ocuparia um lugar especial no meio das milhares de taças conquistadas pelo Benfica.
Eusébio destruiu o Peñarol
NO ano seguinte, os ecos das exibições do Benfica ainda eram bem audíveis em Cádiz. E o Benfica voltou.
E voltou para nova sensação, uma vitória brilhante sobre o Real Madrid nas meias-finais, por 2-1, com golos de Eusébio (17m) e Torres (90m) a responderem ao golo de Puskas (62m).
Com o Bétis também apurado à custa do Boca Juniores, da Argentina (2-1), esperava-se que o Benfica confirmasse na Final o seu favoritismo. Puro engano. O jogo arrastou-se durante 90 minutos sem golos e sem grande entusiasmo. Tão distante da Final do ano anterior que valera dez golos... Mas uma coisa teve de idêntico: o recurso ao prolongamento. E aí, o Benfica baqueou. Rogélio e Frasco marcaram para o Bétis e tiraram das prateleiras da Luz um dos mais bonitos troféus ganhos pelo Benfica ao longo da sua história gloriosa. Seria preciso esperar...
Mas o Benfica tornara-se um cliente de luxo do Ramon Carranza. E, na época seguinte voltou a ser convidado. Tendo a oportunidade irónica de se vingar do Bétis de Sevilha, defrontando-o nas meias-finais e vencendo, por 2-1, com dois golos de Eusébio. Por seu lado, o Zaragoza batia os brasileiros do Flamengo. por concludentes 3-0 e ganhava lugar na Final. Ganhava lugar na Final e viria a ganhar a mesma Final ao Benfica num jogo excitante. Violeta fez 1-0, aos 4 minutos, Torres empatou, aos 11'; Santos faz 2-1, de penálti, e Villa o 3-1, aos 77 minutos. O 3-2 de Eusébio, a três minutos do fim, não serviu mais do que para assustar. O Benfica registava a sua terceira Final consecutiva do Ramon Carranza e somava duas derrotas. Voltava a ser preciso esperar...
Regresso em 1971
O Benfica só regressou a Cádiz em 1971. E desta vez para ganhar. Primeiro um empate frente ao Atlético de Madrid, 1-1 (golos de Eusébio no primeiro minuto e de Luis, de penálti, aos 4'), resolvido só à custa das grandes penalidades. A Final, contra os uruguaios do Peñarol, que haviam eliminado o Valência, deu aos espectadores do Estádio Ramon Carranza a possibilidade de ver um inesquecível Eusébio. Três golos (aos 30, 48 e 78 minutos) selaram a vitória claríssima. O Benfica voltava a ser o rei do Carranza e de forma espectacular como era seu hábito. No ano seguinte subiria de novo ao palco.
Não para levar para Lisboa mais uma das fantásticas taças que coroam o vencedor mas deixando, apesar de tudo, a sua marca, principalmente graças à retumbante vitória nas meias-finais frente aos brasileiros de Botafogo, por 3-0, com golos de Jordão, Nené e Wendell na própria baliza. Não se pode dizer que os portugueses não se apresentassem como favoritos frente ao Atlético de Bilbao (que eliminara o bayern de Munique). Mas o Futebol não se compadece com favoritismo com favoritismos. Apesar do golo inaugural de Nené (21m), os bascos empataram à beira do fim (Carlos, 82m), e resolveram a partida com um novo golo de Carlos (87) já no prolongamento.
O tempo passou. O Benfica não voltaria a Cádiz. Talvez não volte tão breve. O torneio perdeu chama, nos últimos anos tem até sido quase exclusivamente disputado por equipas espanholas, o prestígio voou como uma pétala empurrada pelo vento.
Mas a história regista e não esquece. O Benfica foi uma das equipas mais brilhantes que jamais disputou o 'Trofro de los Trofeos'. Uma príncipe no palácio de Cádiz."
Afonso de Melo, in O Benfica
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