"O Azeiteiro-da-Cabeça-d'Unto foi à gala. Vendo bem não se tratou propriamente de uma gala. Foi, por assim dizer, uma gala mais pequenina. Uma galinha, portanto.
E o Azeiteiro lá estava, circunspecto, bem untado, a cabeça brilhando mas não por dentro, por fora. Não exibia o sorriso velhaco de outras circunstâncias. Talvez por se ver sentado na segunda fila, logo ele que gosta de estar no palco e de dar nas vistas.
A primeira fila estava reservada para o Madaleno e para os seus cães. Cães-de-fila. Cães-de-primeira-fila.
Uns besuntavam-lhe as mãos com a saliva inquinada dos amestrados; outros lambiam-lhe as botas com a estúpida eficiência dos invertebrados. E o Madaleno troçava, canalha, daqueles que, serviçais, dobram a cerviz à sua passagem.
Parece que houve homenagens, mas como reconhecê-las no meio de tanta porcaria?
Entre a homenagem e a sabujice a distância é curta. E a memória também.
Mas fizeram questão de nos avivar memórias não assim tão distantes: prostitutas e prostitutos, mariscos e marisqueiras, viagens intercontinentais, convites para camarotes dirigidos a respeitáveis membros da podre magistratura, perseguições, espancamentos, apedrejamentos, atropelamentos. Animada, a turba bateu palmas. É disso que gostam, sem isso não sabem viver.
Contente, a cáfila babou-se de baba pestilenta.
Sórdido, o Madaleno adormeceu cansado de tanta subserviência. O Azeiteiro-da-Cabeça-d'Unto foi ignorado.
Ali era apenas mais um obnóxio que não dava jeito. Terá tempo para retribuir o convite para a galinha. E já não falta muito...
P.S.- O Senhor-de-Cócoras disse: «Os árbitros estão prontos para a fase final do Campeonato». Pelo menos um tal de Rui Costa já vimos que está."
Afonso de Melo, in O Benfica
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