Silêncio é sinónimo de... cumplicidade

"Tremenda, a sensação de 'deja vu'. E cada vez mais a tese de Herculano Lima se mostra correcta. A impunidade dos árbitros mata o futebol.

Numa excelente entrevista que concedeu a A BOLA há cerca de quatro meses, Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem (CA) da FPF, admitiu a possibilidade dos jogos da Liga Zon-Sagres serem dirigidos por árbitros estrangeiros, desde que se verificassem pressupostos de reciprocidade. Depois de ver Carlos Xistra, ontem, em Coimbra, Vítor Pereira só pode estar a pensar em forma de accionar rapidamente esse intercâmbio, sob pena de desaparecer o que resta de credibilidade à liderança da arbitragem. E o que resta de credibilidade à liderança da arbitragem portuguesa deve-se, quase exclusivamente, à figura de Vítor Pereira. Esse bem está em risco e o presidente do CA, ou é capaz de dar um murro na mesa e demarcar-se do caos, ou será tao responsável como os outros.

Em limite, o presidente do COnselho de Disciplina (CD) da FPF, Herculano Lima, tem razão. Os árbitros gozam de uma impunidade que é negada aos juízes de toga, fazem o que querem e como querem e toda a indústria do futebol anda a reboque dos seus desígnios. É tempo de decretar o fim das vacas sagradas na arbitragem, é hora de se saber mais do que aquilo que a opinião pública conhece.

Na terceira jornada Carlos Xistra foi ao Funchal e o Sporting queixou-se amargamente do seu trabalho; como prémio, foi nomeado para Coimbra e ontem foi o Benfica a sofrer na pelo as suas decisões. Será que o CA está em linha com a desmiolada tese da bondade do erro, defendida pela UEFA, que tudo desculpa? Será que o presidente da CA tem coragem de sair a terreiro e explicar os pressupostos da nomeação de Carlos Xistra para Coimbra, quando o mais normal seria que, depois dos Barreiros, estivesse a descansar na jarra? Estamos na quarta jornada e a sensação de déjà vu é imensa. Estamos na quarta jornada e cada vez mais aquilo que, de forma politicamente incorrecta, o presidente do CJ disse, ganha acuidade. Os árbitros não podem ser tratados nem como vacas sagradas, nem como inimputáveis. Devem responder pelos seus erros. Devem responder pelos seus erros, justificálos (para lá do mero, enganei-me...), ou então não merecem sequer que se equacione a sua profissiolização. Porque por menos dinheiro, pior não há de ser.

Carlos Xistra fez o que fez. Mas quem tem de se chegar agora à frente é Vítor Pereira. Não pode esconder-se na sombra, o que está em causa é demasiado importante, é a industria do futebol que está a sofrer dores que o apito provoca.

Ontem lembrei-me de vários árbitros que fizeram história. Nenhum por boas razões. E todos eles foram, ao longo de muitos anos nomeados de forma cirúrgica. Se Vítor pereira não der, agora, a cara, passa a ser cúmplice. O que seria uma desilusão, porque se trata de alguém que há muito admito.

(...)"

José Manuel Delgado, in A Bola

PS: O Delgado parece que nasceu ontem!!! Como escreveu esta crónica ontem à noite, no final da partida, não teve tempo de ouvir as reacções... Se do visado desta crónica - Vítor Pereira -, era totalmente expectável a sua desvalorização dos erros - a única novidade foi o argumento do excesso de jogos, devido ao aumento das equipas da 2º Liga!!! -, se o Delgado pensava que ele ia ficar em silêncio, e assim ser cúmplice, pode ficar descansado que o Vítor Pereira calado não ficou, manifestou activamente o seu apoio ao branqueamento da roubalheira, da APAF também seria esperada a defesa da classe, os criminosos protegem-se sempre uns aos outros - tornado-se assim, no mínimo, todos cúmplices -, infelizmente, também já estava à espera, que alguns Benfiquistas reagissem-se, atacando a Direcção, o treinador e os jogadores... desta vez, lá apareceu o Gaspar Ramos - pessoa que respeito, sempre respeitei, mas desde que saiu da Direcção do Benfica foi contaminado pelo famoso vírus Lusitano: "...eu no meu tempo, é que fiz sempre as coisas bem, estes rapazes novos, são todos uma cambada de incompetentes..."!!!