"Cresci a ouvir expressões como «o árbitro não quis estragar o jogo», a servirem de desculpa ao facto de determinado jogador ter sido poupado a um mais que merecido cartão vermelho.
Nunca as partilhei, por entender que no que diz respeito a aplicação de leis não deve existir arbitrariedade. A lei é como é,, deve ser justa para ser eficaz, e, a partir daí, cada um deve empenhar-se em cumpri-la.
Este fim-de-semana segui alguns jogos de futebol via TV e acabei por ver umas quantas expulsões. A de Fredy, do Belenenses, num jogo da 2.ª liga com o União, por exemplo, foi das mais disparatadas. Já com um cartão amarelo segurou um adversário pela camisola, quando este lhe fugia. Levou segundo amarelo e saiu frustrado, a dar estaladas em si próprio e a chamar-se «burro». Nada a dizer: o árbitro agiu bem, aplicou a lei e não se pôs a pensar que ia estragar o jogo.
Já em Alvalade, no último dos jogos do fim de semana, vi pior. Labyad foi expulso com um segundo cartão amarelo porque o árbitro auxiliar entendeu que este se tinha envolvido com Cláudio quando, na verdade, apenas foi empurrado pelo adversário. Neste caso, que acabou por não influenciar o resultado do jogo, mas pode influenciar o próximo (labyad não poderá ser utilizado frente ao Estoril, no sábado), o que houve não foi má aplicação da lei. Foi, isso sim, má percepção da realidade. Incapacidade para avaliar o que se passou em frente dos seus olhos.
As únicas decisões que podem estragar um jogo são as erradas; é que isso de o jogo ser um espectáculo é, na verdade, uma grande treta. O jogo é uma competição entre dois lados, e que, na maior parte das vezes, coloca frente a frente investimentos de milhões. Quem faz faltas para ser expulso tem de ser expulso, seja no primeiro, seja no último minuto.
E os árbitros que vêem o que não acontece não podem estar numa competição profissional."
Nuno Perestrelo, in A Bola
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