"Certamente todos vocês se recordam daquele filme enlouquecido de perfeito 'nonsense' que levou o nome de 'Airplane', em português 'O Aeroplano', realizado por Jim Abrahams e pelos irmãos Zucker. O 'American Film Institute' considerou-o o décimo filme mais engraçado de todos os tempos. Ora, se os senhores do 'American Film Institute' tivessem visto a versão recente da obra levada à cena há uns dias, sem Leslie Nilsen mas com D. Palhaço numa interpretação inesquecível, talvez o elegessem como o filme mais grotesco de todos os tempos. É verdade que a fita só foi vista pelos próprios actores e que as versões divergem quanto ao conteúdo. Há até quem diga que chegou a ter minutos de suprema pornografia, senão visual pelo menos vocabular, com insultos a esmo e, tal e qual como na versão original de 1980, peixe estragado a ser servido aos passageiros.
A sarrafusca foi de tal ordem que, de repente, o Madaleno começou a esvaziar como um balão. Lembram-se do filme? Lembram-se de Otto, o piloto automático insuflável? Pois eis que o passageiro do lugar 2A começa a largar ventosidades e nem por isso agradavelmente perfumadas. Pânico a bordo! Três pessoas acorrem em auxílio do arfante; as restantes continuam a ler jornais, a dormir ou a jogar às cartas, já enfastiadas de tanto flato por parte da atolambada figura. Entra então em cena a marafona que, tal como a Eleine do filme, trata de lhe soprar flebilmente no pipo que o pândego esconde no umbigo. Há quem vire a cara, enojado, à medida que a jovem flausina arfa no seu esforço de o devolver às medidas convencionais. É um espectáculo deprimente. O Madaleno ganha, finalmente, cor. Aquele tom amarelado de quem tem a bílis a percorrer toda a corrente sanguínea.
Quando desembarca já é chamborgas do costume, cheio de goela e bazófia. Mas todos nós sabemos que é apenas um bufão insuflável."
Afonso de Melo, in O Benfica
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