"A minha desilusão com esta nova vaga é ainda maior quando três dos maiores dirigentes desportivos em Portugal (Rui Costa, Villas-Boas e Pedro Proença) vieram do desporto.
As constantes trocas de palavras e comunicados que têm marcado o futebol nacional são o melhor exemplo do rumo que estamos a seguir. Com a perda de lugares no ranking da UEFA todos sabem que o pote milionário só está disponível para um ou para dois clubes. Em vez de tentarmos inverter tudo isto, em conjunto, os nossos dirigentes optam por fazer tudo para tentar garantir a sua presença na UEFA Champions League. Isto acontece porque vivemos todos acima das nossas possibilidades e porque não temos a visão para perceber que este não é o caminho certo…
A ética é mesmo importante?
Quem me acompanha sabe que utilizo uma frase de uma forma muito regular: o futebol já não é só um desporto, mas sim uma indústria. Isto significa que está tudo sob avaliação. Já não basta ter um bom rendimento desportivo para se ter sucesso.
Nos dias de hoje, a forma como se gerem os recursos de cada clube/SAD é cada vez mais esmiuçada e determinante. As competências de quem dirige têm de ser mais abrangentes e têm de se adaptar à evolução dos tempos. Também são criados mecanismos de forma a que a transparência e a credibilidade estejam, cada vez mais, presentes neste setor em constante evolução.
Dentro deste enquadramento, muitas das práticas que vimos no passado já não são aceites e não deveriam existir. Infelizmente, em Portugal, o passado continua a dominar o presente.
Esta semana tivemos mais um episódio que comprova isto. Alegadamente, no intervalo do FC Porto-SC Braga, o árbitro deparou-se com um televisor (que não se podia desligar) no balneário. O aparelho transmitia, de forma contínua, imagens de um lance, da primeira parte do jogo, relativo a um golo anulado ao FC Porto. Na ótica do FC Porto, esse lance, ajuizado por Fábio Veríssimo, prejudicou o clube.
O que me parece grave é a prática e o modus operandi que foi exposto por Fábio Veríssimo no relatório do jogo. O que é que o FC Porto pretendia com este comportamento? Esta atitude demonstra ética, lealdade e respeito pelo adversário, árbitros e adeptos? A marca FC Porto sai valorizada deste episódio? Os parceiros e patrocinadores do FC Porto ficam satisfeitos e reveem-se nestes comportamentos? O FC Porto tem esta forma de atuar na UEFA?!
Novos dirigentes — velhos hábitos
De uma forma geral, sou muito critico para com quem dirige. Com o surgimento desta nova vaga de dirigentes a expectativa é que tudo fosse diferente para melhor. Esperávamos consensos, esperávamos visão, esperávamos preocupação com o desenvolvimento e crescimento do futebol português. Esperávamos consciência, ética, fair-play e um futebol mais transparente.
Na realidade o que esta nova vaga de dirigentes nos trouxe foi mais do mesmo: fanatismo, desresponsabilização (com a arbitragem a ser o bode expiatório), práticas do passado, ataques constantes entre clubes na praça pública, intervenções com o objetivo de condicionar árbitros, promoção da paixão pelo ódio aos rivais e a personificação dos egos na figura dos presidentes dos clubes. Muito mais importante do que fazer o certo é fazer tudo para se manterem no poder!
Fazem inúmeras reuniões na Liga ou juntam-se em galas da FPF com o intuito de convencer toda a gente que o futebol português está a evoluir e que estamos no caminho certo. Distribuem-se prémios pelos que têm maior dimensão social e fazem-se discursos bonitos. Promovem-se almoços e confraternizações entre todos, de onde saem com um sorriso nos lábios. Terminadas estas confraternizações disparam uns contra os outros. Cada um pensa em si e só em si.
Depois temos aqueles que têm ou deviam ter a responsabilidade de chamar a atenção para o que se está a passar, do mal que estão a fazer ao futebol português e da oportunidade que se está a perder. À cabeça, o presidente da FPF. Com tudo a arder, onde anda o presidente da FPF? O que tem a dizer sobre tudo isto? Não deveria ser ele a demonstrar, publicamente, desagrado por todo este triste espetáculo que vemos semana após semana? Então por que não aparece?
Em seis meses Pedro Proença já fez duas galas para distribuir prémios, sendo que ninguém ficou de fora. Depois promoveu um summit com um investimento elevado (já agora qual o custo deste summit?) que trouxe a bandeira de ser um local para discutir o futebol. Passou diversas vezes a mensagem de que o futebol nacional está a evoluir e a crescer. Depois disto desapareceu. Ninguém sabe onde anda o presidente da FPF que devia ser o primeiro a condenar tudo o que temos visto e ouvido nas últimas semanas. Por que não o faz?
Talvez porque o seu lugar dependa dos votos e das influências de quem tem de criticar e chamar a atenção. Talvez porque está mais preocupado com aquilo que pretende para a sua carreira do que para a evolução do futebol português. Talvez porque, estrategicamente, pretenda apenas aparecer publicamente associado a coisas positivas, como a entrega de prémios ou as vitórias da Seleção do que estar associado a temas que podem minar a sua imagem.
No desporto faltam estadistas. Pessoas que gostem mesmo do futebol e que percebam que a sua missão não é alimentar o seu ego, mas sim fazer o que é certo. Faltam pessoas que coloquem o nós acima do eu. Faltam pessoas que tenham visão e que percebam que se continuarmos com este caminho, vamos TODOS ser mais fracos.
Desportivamente, perdemos competitividade, caímos no ranking e teremos menos equipas nas competições europeias. Como resultado, financeiramente, iremos ter cada vez menos condições para lutar contra países que estão a dar os passos certos e que têm um poder de compra e um mercado interno muito maiores que os nossos. A maioria dos estádios continuarão vazios porque as pessoas perdem a motivação de ver futebol e porque são educadas a gostar de clubes e não de desporto. A nossa sorte é que do outro lado da extremidade temos treinadores e jogadores que teimam em continuar a colocar Portugal nas bocas do mundo pela sua qualidade, trabalho, dedicação e superação.
A minha desilusão com esta nova vaga é ainda maior quando três dos maiores dirigentes desportivos em Portugal (Rui Costa, Villas-Boas e Pedro Proença) vieram do desporto e sabem bem o que passaram com muito dirigentes sem a mínima qualidade. A sua única missão deveria ser remar contra tudo isto e fazer diferente. Representar todos aqueles que desempenham hoje as funções que estes desempenharam no passado e dar-lhes um ar mais puro e condições mais favoráveis. O que constato é que não só não o fizeram, como, em alguns casos, ainda têm a capacidade de serem mais maquiavélicos do que os antecessores.
A valorizar: Carlos Forbs
Numa semana marcou dois golos e fez uma assistência contra o Barcelona e foi chamado por Roberto Martínez.."

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