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quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O menino que fazia 1200 quilómetros por semana pelo sonho de jogar no Benfica


"Onde se escreve sobre a bela entrevista a João Carvalho que hoje publicamos e onde ele recorda os sacrifícios da formação no futebol, mas também dos pais que se esquecem de gerir frustrações dos milhares de meninos (e meninas) que não chegam a profissionais

Há uns anos, num colóquio com treinadores de futebol, ouvi uma palestra sobre camadas jovens que jamais esqueci. Dizia Duarte Machado, antigo jogador e que seguiu carreira como responsável de escalões de formação, que não enganava os miúdos. Que, desde cedo, os confrontava com a realidade: «Só 3 por cento de vós chegará a assinar um contrato profissional. E desses só 3% conseguirá contrato acima de 2.000 euros/mês. Assim, divirtam-se, aprendam, cresçam e sonhem, mas não deixem que eventual frustração vos destrua.»
Um discurso para os jovens das academias, mas que, dizia também ele, deveria chegar, isso sim aos pais, cujo sonho é tantas vezes mais vivo e exacerbado do que nos próprios filhos, os praticantes, os alunos de futebol. Os mesmos pais que, semana após semana, pressionam treinadores, para que ponham os filhos a jogar ou com dicas de como deveriam fazer o seu trabalho, ou que ofendem e atacam jovens árbitros, também em formação. Um escândalo que se repete jornada após jornada em locais de aprendizagem e crescimento onde deveria reinar a boa educação — que, naturalmenre, reina entre alguns pais e mães destes jovens do futebol; infelizmente não em todos.
Muito me surpreendeu — talvez por ideias pré-concebidas de que este é um fenómeno do sul da Europa e que a norte impera o bom-senso — a entrevista recente de Anthony Taylor à BBC, na qual o consagrado árbitro internacional inglês chama a atenção para o crescente fenómeno da violência verbal e física contra jovens árbitros nas competições das camadas de formação do futebol inglês. E remata: «Vivemos uma fase cultural em que a expectativa pela perfeição é reinante e exacerbada. Não esperem que sejamos perfeitos, parem com isso!»
É com essa expectativa de perfeição que muitos miúdos e muitos pais andam pelo futebol. O sonho de ser o próximo Cristiano Ronaldo, sem pensarem nos milhões de jogadores que sonharam o mesmo e nem a profissionais chegaram. «Pensaram mal, o meu filho é que vai ser», dirão.
Foi também o que pensou o jogador do Estoril, João Carvalho, craque que brilhou nas seleções jovens de Portugal e que chegou a vestir a camisola principal do Benfica, inclusive em jogos de UEFA Champions League, e que numa bela entrevista a A BOLA, conduzida por Rafael Batista Reis, recorda os sacrifícios que fez pelo sonho, os 1200 quilómetros que, com os pais, o dele e os de outros jovens, fazia semanalmente entre Castanheira de Pêra e o Seixal para poder treinar-se no Benfica. Não se arrepende. Afinal, ele é um dos 3%. E ainda sonha..."

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