"O silêncio da comunidade futebolística sobre Gaza pesa ainda mais quando a morte de um dos seus está em causa. Honra a Salah, que com uma pergunta fez mais do que todos os outros
O genocídio a decorrer em Gaza está à vista de todos, mesmo que Israel tenha proibido os jornalistas estrangeiros de lá entrar para nos mostrarem como as bombas e a fome estão a devastar um povo. O governo israelita consegue, através da propaganda, dominar muitas mentes e desumanizar os palestinianos a um ponto que a História nos ensinou que é fatal, mas em 2025 a realidade tem outras formas de chegar longe e de nos deixar incomodados, revoltados, tristes com o que se passa em Gaza.
Nos últimos dias, soubemos da morte de Suleiman al-Obeid, conhecido como «o Pelé palestiniano». A morte não, o assassinato. Porque a estrela do futebol local estava à procura de ajuda humanitária, tal como muitos civis, quando foi morto pelas forças israelitas. É só mais um dos muitos exemplos das atrocidades cometidas por Israel, pelo que até podíamos continuar o scroll infinito sem pensar muito nisso. Quando já morreram tantas pessoas - tantas, mas tantas crianças! - das formas mais cruéis, é mais fácil seguir em frente. Não foi o caso de Mohamed Salah.
«Podem dizer-nos como é que ele morreu, onde e porquê?» - com esta simples pergunta, em resposta a uma publicação da UEFA que tentava disfarçar o crime cometido com elogios ao jogador, a estrela do Liverpool colocou o genocídio em cima da mesa do futebol. Eric Cantona e Gary Lineker são outros dos que não têm feitio para ficarem calados, mesmo que isso lhes custe programas de televisão. Com a sua voz, fazem o que outras estrelas e organizações não têm coragem para fazer.
Segundo a Associação Palestiniana de Futebol, 325 membros da comunidade futebolística foram mortos desde 7 de outubro de 2023. Mas é essa mesma comunidade que continua em silêncio, com medo das consequências de tomar posição. O futebol movimenta hoje tantos milhões que ninguém quer arriscar perder uns quantos em prol da humanidade. Mas o que seria da pressão internacional sobre Israel se as grandes figuras, que inspiram tanta gente, falassem sobre isto? Salah foi muito criticado, mas também não será esquecido por quem não perdoa a indiferença em tempos de genocídio. Ficará a ganhar, certamente.
Quem cala, consente. Há países, políticos e figuras de outros meios que demoraram demasiados meses a perceber o que se passa em Gaza, mas lá chegaram ou chegarão. Será tempo a mais para palestinianos como Suleiman al-Obeid, mas é hoje evidente que a História não perdoará quem não quis ver, não quis falar, não quis sancionar Israel. Até no futebol."

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