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segunda-feira, 25 de março de 2024

As conquistas de Roberto Martínez


"Ao manter os jogadores focados num objetivo de ter um apuramento só com vitórias, o selecionador criou uma exigência de que eles gostaram

O processo de sucessão de Fernando Santos não foi pacífico. Foram apontados vários nomes ao cargo de selecionador. A escolha recaiu em Roberto Martínez (RM) que trazia consigo experiência no cargo de selecionador. Analisando a prestação com a Seleção da Bélgica, teve momentos muito bons, como a performance no Mundial 2018 em que levou a Bélgica às meias-finais a praticar um bom futebol. No entanto, houve outros momentos desapontantes onde destaco, sobretudo, a desilusão no Mundial do Catar. A Seleção belga era apontada como uma das favoritas e acabou por não passar a fase grupos. Ao longo destes meses em que é selecionador, Roberto Martínez conseguiu criar um ambiente positivo em seu redor.

A conquista dos jogadores
Com tantos e tão bons treinadores portugueses a escolha de um selecionador estrangeiro gera sempre alguma discussão. Roberto Martínez não foi exceção. Rapidamente procurámos analisar a forma como as suas equipas jogavam e qual o paralelismo com a realidade portuguesa. Com experiência no cargo e com inteligência emocional, RM sabia que o seu principal objetivo seria ganhar a confiança dos jogadores ou retirar-lhes alguma desconfiança/entraves que podiam existir. Assim, a sua primeira resolução foi andar pelos diferentes países e clubes a falar com os jogadores nacionais. Este primeiro contacto serviu para se apresentar, para os conhecer melhor, para perceber as suas expetativas e o sentimento que cada um tinha relativamente à nossa seleção, que vinha desgastada do Mundial do Catar. Este primeiro passo foi importante, mas o local onde se conquistam os jogadores é no balneário e na relva. Para um treinador ter sucesso é fundamental definir um caminho que seja entendido e seguido por todos. Passados 14 meses e 10 jogos oficiais e um particular, percebemos, pelas reações dos jogadores, que a confiança e o ambiente em redor da seleção são muito positivos. Há uma hierarquia dentro do balneário que é reconhecida e aceite por todos os jogadores. Este equilíbrio faz com que os mais velhos sintam a missão de integrar os mais novos na dinâmica pretendida e que ajudem a incutir nos recém-chegados a exigência e a responsabilidade que significam representar Portugal.

Preparação e convicção
Roberto Martínez, pela sua experiência, percebe a importância de ter um ambiente positivo em torno dos jogadores e do staff. Se a primeira missão passava por conquistar os jogadores, a segunda missão passaria sempre por fazer acreditar os adeptos e os críticos. Em todos os momentos, o atual selecionador teve total disponibilidade para falar das suas opções. No que me diz respeito, não concordei com todas as decisões e justificações sobre as opções que foi tomando. Dentro do relvado foi ousado. Tentou, em alguns momentos, implementar um sistema camaleónico, com constantes mudanças de posição. Roberto Martínez sabe tão bem como nós que não teve tempo para trabalhar os movimentos e dinâmicas que permitiriam a Portugal sentir-se 100% confortável numa forma de jogar com estas caraterísticas. Contudo, arriscou porque percebeu que está na presença de um conjunto de jogadores de enorme qualidade e com um grande conhecimento do jogo. Complementarmente, RM também sabe que estes jogadores gostam de ter liberdade para poderem mostrar o seu futebol. Tudo isto poderá funcionar desde que o equilíbrio defensivo esteja garantido. A imaginação, criatividade e desequilíbrio serão potenciados pelos talentos que tem à disposição. A vida de um selecionador é muito diferente de um treinador de um clube. Não há muito tempo para trabalhar com todos. Como tal, todos os momentos são fundamentais para ir cimentando as tais rotinas ou automatismos dentro do relvado. Acredito que as semanas antes do início do Europeu serão fundamentais para que a nossa seleção chegue mais afinada, mais capaz e com maior qualidade de jogo à fase final do Euro 2024. Conforme mencionei anteriormente, concordando ou não com todas as opções tomadas, percebo aquilo que o selecionador pretendeu fazer a cada momento. Por exemplo, em determinados momentos, RM convocou jogadores que tinham poucos minutos nos seus clubes. Por que motivo o fez? Primeiro porque acredita que estes jogadores serão fundamentais na competição que se avizinha. Em segundo lugar, porque pretende igualmente criar um núcleo forte fora do relvado e isso só se consegue com convívio e com interação entre todos.

Ambição e todos contam
Outra caraterística que RM nos foi dando a conhecer é a sua preocupação com todos os que trabalham à sua volta. Demonstrou sempre um enorme apreço e valorização por todos aqueles que estão na sombra e que têm um papel importante na preparação de todos os detalhes, para que os atletas possam fazer o seu papel sem outras preocupações. Com esta atitude, conseguiu criar um ambiente positivo mais abrangente, que sai do balneário, e que se estende àqueles que lidam diariamente com os jogadores. O selecionador sabe a importância deste fator, porque o Europeu é uma prova longa, que causa muito desgaste emocional a todos os envolvidos. Quanto mais familiar e positivo for o ambiente em torno dos intervenientes, maior será a união entre todos. Em todas as entrevistas dadas pelos atletas nacionais há um fator que está muito presente: a ambição. Num grupo acessível, em que Portugal rapidamente conseguiu o apuramento, seria normal baixar a guarda. O foco de RM neste ponto foi essencial. Hoje percebemos que muitas das suas palavras, nas palestras ou em conversas individuais, passaram por continuar a manter a concentração, a intensidade e a motivação de todos bem vivas. Criou novos objetivos a serem alcançados. Se é verdade que conseguimos um apuramento inédito com 10 vitórias em 10 jogos, parece-me que o resultado principal desta estratégia, ou forma de estar, foi o de criar uma rotina e um comportamento nos jogadores, que podem ser decisivos na competição que se aproxima. Resolver as questões e depois abrandar e relaxar é um comportamento muito típico do português. Ao espicaçar os jogadores, e ao mantê-los focados num objetivo de ter um apuramento só com vitórias, RM criou uma exigência que os jogadores gostaram e que vão levar para o Euro- 2024."

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