"Pode uma simples vitória numa partida de um campeonato do mundo mudar, transfigurar, revolucionar uma modalidade em Portugal? Não só pode, como deve.
Lobos, Lobos, Lobos, Lobos
O campeonato do mundo é de râguebi, a modalidade é o râguebi e a seleção nacional é de râguebi.
Na segunda presença num Mundial, depois de 2007, em França, os lobos, assim são conhecidos quem representa a seleção portuguesa, voltaram ao palco da maior competição internacional da modalidade. 16 anos depois. De novo em França.
Recuando a 2007, os lobos de então mostraram (não só, registe-se) que sabem cantar o Hino de Portugal. Foram verdadeiros heróis que abriram as portas àquilo que ontem, dia 8 de outubro, todo um país testemunhou. A primeira vitória de sempre na competição, e logo frente a uma seleção que está no top 10 mundial, em oitavo, oito lugares acima de Portugal, depois de 4 derrotas em 2007 e dois desaires e um empate, em 2023.
Um feito sem paralelo neste desporto, mais que em qualquer outro, que apesar de ser o mais inclusivo é aquele que mais cria e promove clubes fechados de poderosos (leia-se, nações), onde Mundiais e grandes competições internacionais (Torneio das Seis Nações) têm muito de “Old Clubs” e pouco de meritocracia. Mas isso, é conversa para outro dia.
Os lobos de 2007 foram os heróis de uma geração que hoje se transformou nos novos heróis do râguebi português e, atrevo-me a dizer, da bola oval a nível internacional.
Ao lado dos portugueses nascidos em França, de primeira e segunda geração, os lobos de 2023 fizeram algo único, sem precedente no râguebi mundial. O mundo rendeu-se a uma equipa cuja base é ainda amadora. Sim, amadora. Miúdos e homens que estudam e exercem as suas profissões durante o dia e dedicam-se de alma e coração ao desporto, em treinos individuais e matinais de ginásio, treinos de conjunto à noite e jogos ao fim de semana.
Se no pós-2007, a população de jogadores duplicou, hoje, nos dias que se seguem, espera-se que a revolução vá muito para além das inscrições.
Aos jogadores que ainda são amadores abre-se uma porta gigantesca do mundo profissional, oportunidade para se juntarem a outros que desbravaram caminho em Espanha, Inglaterra e França.
Os clubes franceses, em especial, vão começar a ter olheiros por cá e, quem sabe, vão instalar academias nos clubes nacionais, uma parceria onde todos saem a ganhar. Atletas, clubes, seleção e o país.
À seleção nacional e à Federação Portuguesa de Râguebi, que em boa hora começou por construir uma seleção “B”, os Lusitanos, que deu rodagem a muitos que hoje compõe os selecionados, apostou numa “profissionalização” temporária da seleção, montou esta equipa, o caminho não poderá ser outro que não a profissionalização total. Os jogadores merecem, a modalidade necessita e o desporto nacional agradece.
Os Heróis estão criados, os resultados começaram a aparecer, mas ainda falta mais um passo.
Se há atletas, há vontade e disponibilidade dos mesmos, há clubes, há uma federação capaz de fazer uma aposta séria, no fim da linha há uma chave capaz de aproveitar o que está a jusante para levar a modalidade a montante.
Falo das empresas (onde incluo os Jogos Santa Casa). Apostem neste desporto a quem muitas vezes pedem emprestados os valores que representa nas vossas apresentações e exercícios de motivação. Aos salários emocionais que apregoam juntem um patrocínio real. Estes miúdos, miúdas, homens e mulheres merecem e agradecem.
Nota final que não é uma mera bajulação, mas sim um elogio sincero a todos os envolvidos numa caminhada de 4 anos vindos da 3.ª divisão à primeira vitória num mundial: Federação Portuguesa de Râguebi, clubes, jogadores, equipa técnica, a todos.
Hoje e amanhã somos todos lobos. Lobos, lobos, lobos, lobos!
PS – Recado aos pais e mães: peguem nos vossos filhos e filhas e procurem um clube de râguebi nas proximidades. De Loulé, a Arcos de Valdevez, passando pela Lousã, Moita, Alcochete, Évora, Montemor, Coimbra, Lisboa, Setúbal, Porto, Braga, Guimarães ou Tondela, procurem e façam a inscrição.
A todos, mergulhem no maravilhoso mundo do râguebi, seja pela componente competitiva, na famosa “terceira parte”, seja por via de projetos de cariz social que mudam a vida de outros, como é o caso do trabalho no Oh Gui, Escolhinha de Rugby da Galiza, Escola de São João da Talha e Rugby Com Partilha (declaração de interesses: sou voluntário neste projeto que leva o râguebi às prisões)."
e depois começam logo por faltar ao respeito a todos os clubes de rugby ou que tem equipas de rugby em homenageando os lobos num sitio de um clube que nada mas "NADA" fez pelo rugby.
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