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sexta-feira, 22 de setembro de 2023

A paixão e as contas


"Mesmo antes de jogarem, clubes portugueses já estão a ganhar

Sejamos realistas: para a dimensão competitiva mesmo das equipas de topo do futebol português, há uma indesmentível grande vitória no acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, que é o dinheiro dos prémios que a UEFA atribui à partida, ainda sem qualquer jogo realizado. No caso de Benfica, FC Porto e SC Braga, são já quase 110 os milhões garantidos pela excelente presença das três equipas na maior prova europeia de clubes.
Pode o futebol português ter-se tornado num fantástico exportador de talento e contar, ainda, com clubes de topo capazes de realizarem transferências impressionantes. Mas diz-nos o outro lado da moeda, porém, que o dinheiro da UEFA, sobretudo o dinheiro da Liga dos Campeões, é absolutamente vital para o equilíbrio e sobrevivência competitiva dos principais clubes do País.
Claro que para os adeptos o mais importante é ganhar, celebrar, festejar. Mas não tenhamos ilusões: para as principais sociedades desportivas do futebol português, importante mesmo é chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões. Os quase 110 milhões de euros já garantidos por Benfica, FC Porto e SC Braga são decisivos para o equilíbrio orçamental. No caso do SC Braga, aliás, o dinheiro já assegurado (cerca de 28 milhões de euros) já dá cobertura ao orçamento para o futebol em 2023/24. Extraordinária almofada para um profundo descanso!
Sem qualquer jogo feito, daqueles quase 110 milhões relativos a presença e ranking o FC Porto é o clube português que mais recebe (quase 42 milhões); o Benfica já assegurou quase 40 e o SC Braga os tais cerca de 28. A este dinheiro, juntar-se-á, ainda, o valor do designado ‘market pool’ (direitos televisivos), e nesse capítulo o Benfica é o que receberá mais (45% da verba destinada a Portugal, ainda não revelada), seguido do FC Porto (35%) e SC Braga (20%).
O que se sabe é que a UEFA tem mais de 300 milhões de euros de direitos televisivos para distribuir pelos 32 clubes concorrentes a esta fase de grupos. Para Portugal a fatia pode não ser significativa à luz do que recebem os clubes das cinco principais Ligas europeias. Mas ainda assim, por poucos que sejam, sempre serão mais alguns milhões de euros. Tudo junto, para as equipas nacionais estar na Champions significará, sempre, poderem, financeiramente, respirar. Nem se trata de respirar melhor. Trata-se de respirar. Se a isso juntarem algumas vitórias e atingirem, pelo menos, os oitavos de final, ficam então com a época feita.
Não é essa a preocupação dos adeptos, apaixonados, por exemplo, por uma equipa do FC Porto que apesar das tremendas e graves dificuldades financeiras vem, na verdade, mostrando há muito, na Europa, impressionante dimensão competitiva (três vezes nos quartos de final nos últimos 10 anos), apenas ultrapassada, nas últimas duas épocas, pelo Benfica, com as duas consecutivas presenças nos quartos de final.
Ficam, pois, as contas para os financeiros e o jogo jogado para a paixão dos adeptos, que já ontem puderam começar por celebrar a magnífica vitória do FC Porto sobre um destroçado Shakthar, a primeira das muitas que a legião portuguesa de fãs deseja festejar também com Benfica e SC Braga, que hoje dão o respetivo pontapé de saída com igual esperança, mas diferente nível de dificuldade. Em teoria, claro.

PS: Muito feliz foi o diário ‘Mundo Deportivo’, que se edita e vende, sobretudo, na província espanhola da Catalunha, ao titular, em manchete, JOÃO FÉNIX, no dia seguinte à vitória do Barcelona sobre o Bétis, que marcou, com muito brilho, a estreia a titulares de João Félix e João Cancelo na equipa de Xavi Hernández. João, o Félix, está, como fénix, a renascer, sim, não das próprias, mas das cinzas em que alguns o pareceram querer desfazer no calor deste último verão. Ontem, de novo em Barcelona, João, o Félix, o futebolista genial que todos conhecem, mas só alguns, porventura, compreendem, que abdicou de muitos milhões de euros para jogar no Barça, voltou a mostrar como os mais geniais, para fazerem o que sabem, precisam apenas de se sentir verdadeiramente felizes."

João Bonzinho, in A Bola

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